O novo Conselho Nacional das Confederações Patronais (CNCP), apresentado nesta terça-feira em Lisboa, assegura não ter "objetivos políticos individualizados", mas quer falar a "uma voz" com o governo para discutir temas como a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) em matérias transversais como as agendas mobilizadoras de investimento ou a requalificação de recursos humanos.
A nova organização fala em "não só recuperar, mas acelerar a economia e o desenvolvimento do país, com a sua estrutura empresarial toda a favor desse crescimento", elegendo como um dos objetivos essenciais a obtenção de consensos quanto à forma de aplicação dos fundos do PRR. Nomeadamente, em matérias transversais e que vão exigir consórcios de instituições públicas e privadas, como os investimentos das chamadas agendas mobilizadoras ou a qualificação e requalificação dos recursos humanos do país.
"É um desafio que colocamos a nós próprios, na perspetiva e na esperança de que o governo sinta aqui uma vontade de progresso e não qualquer outro objetivo", indicou Eduardo Oliveira e Sousa, primeiro porta-voz, também presidente da Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP.
"Não temos nesta estrutura objetivos políticos individualizados. Por isso, não é uma estrutura com uma direção, com uma constituição formal, mas é a voz do sector empresarial de todo o país", afirmou o responsável que manterá por três meses a funções de porta-voz. Estas serão assumidas de forma rotativa, a cada três meses, pelas cinco confederações, por ordem alfabética.
A organização integra, além da CAP, também a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), a Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI) e Confederação do Turismo de Portugal (CTP).
Destas organizações, apenas uma, a CPCI, está fora da Comissão Permanente de Concertação Social, sede da negociação tripartida em matérias laborais. O novo grande consórcio de patrões não rejeita trazer a voz do sector da Construção e do Imobiliário também para a mesa dos parceiros sociais.
"É verdade que há aqui uma confederação que não pertence à CPCS, mas é uma área de atividade da economia nacional da maior relevância. Nada obsta a que seja conversado com ela, no âmbito do CNCP, temas que possam depois em sede de Concertação Social terem também alguma relação com a visão, com a forma como essa confederação verá esses assuntos", considerou Oliveira e Sousa.
O porta-voz inicial da CNCP também não deixou de fora da abordagem "a uma voz" a questão salarial, cuja discussão, no quadro de um acordo de rendimentos procurado pelo governo, foi interrompida pela chegada da pandemia a Portugal em março do ano passado. E onde as confederações patronais referiam a necessidade de haver contrapartidas para permitir a subida dos salários.
"Precisamos de crescimento, precisamos de melhores empresas e de empresas maiores, precisamos de mais qualificação do emprego para que haja evolução salarial. Essa evolução salarial deve ser acompanhada de medidas importantes de política pública, até no âmbito fiscal, para que os talentos não se sintam expulsos para procurarem melhores condições no exterior", afirmou.
Nos cinco principais objetivos com que a CNCP se apresenta estão, para já, outros temas: a recuperação de clientes e mercados; a procura de políticas para aumentar a competitividade internacional das empresas nacionais; a captação e retenção de recursos humanos, assim como a sua qualificação; a procura de "estruturas financeiras mais sólidas"; e a adequação e programação de novos investimento.
O novo Conselho diz ainda que quer pôr os patrões a responder às "forças" que pretendam "diabolizar do lucro". "Esta coesão é tanto mais necessária quanto a crise pode também abrir caminho à maior projeção de forças da sociedade portuguesa que persistem em difundir desconfianças e preconceitos contra os empresários, em desvalorizar o papel das empresas na construção de um país mais próspero, ou diabolizar o lucro como sendo causa da pobreza. Trata-se de uma visão errada e até retrógrada", defendeu Eduardo OLiveira e Sousa.