Novo fôlego de lojas de proximidade põe Aqui É Fresco a crescer

Diretora-executiva da rede de minimercados da Unimark explica planos de expansão, revela como estão a olhar desafios como a sustentabilidade e admite riscos da inflação.
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Perto e de confiança é o lema e a pandemia veio dar-lhe um significado especial, com a rede Aqui É Fresco a capitalizar uma mudança de hábitos de consumo que passa mais por compras de proximidade. Uma década depois de abrirem as primeiras lojas associadas - de proximidade, independentes, super e minimercados -, a diretora-executiva, Carla Esteves, explica que o momento é de expansão. "Temos hoje 710 associados e continuamos a contar com cerca de dez aberturas por ano. Mas é sobretudo de independentes que se juntam a nós ou com lojas que querem mudar de insígnia que temos conseguido obter crescimentos, temos conquistado espaço à concorrência", explica ao Dinheiro Vivo.

Com ligação direta à Unimark, cooperativa de grossistas e retalhistas de produtos de grande consumo que abastecem as lojas, a rede Aqui É Fresco está sobretudo concentrada no norte e no centro do país, onde estão os cash & carry. "Continuamos a ter capacidade de nos expandirmos nessas áreas", garante Carla, assumindo: "Adorávamos expandir ao sul, mas a enorme falta de grossistas no Alentejo impede um impulso grande." O que não impede a cadeia de estar "sempre à procura de oportunidades para abrir e crescer no Alentejo e Algarve", enquanto endereça novos desafios como os da sustentabilidade, seja no trabalho feito com os parceiros para trocarem sacos de plástico por papel ou reciclados seja na cada vez mais forte ligação à Too Good To Go, rede que redistribui alimentos não consumidos por quem mais precisa. "Todos os meses temos mais lojas parceiras e maior volume de distribuição", diz.

Para Carla Esteves, a grande vantagem de fazer parte da rede que lidera é "o folheto, que é oferecido, sem qualquer fee, a par da ajuda que damos à comunicação dos pontos de venda, que mantêm toda a sua independência", incluindo a decisão de a quem compram os produtos que vendem aos clientes. "O ser humano detesta ser obrigado ao que quer que seja; nós fidelizamos porque temos boas condições", resume a responsável, assumindo que a vontade de ampliar a rede tem levado a dar alguns passos, com resultados.

Na convenção de junho, que marcou o regresso ao presencial, juntou mais de 700 retalhistas e conseguiu aproximar-se dos 5 milhões de euros de faturação em negócios da rede e de "lojas que andávamos a namorar para que aderissem" com parceiros fornecedores e as condições especiais garantidas nesses dois dias.

"Tínhamos faturado 2,7 milhões em 2020 e em 2021, a ter de fazer tudo em formato digital e online, aumentámos para 3,58 milhões. Agora chegámos aos 4,7 milhões, que representam um crescimento significativo."

A pandemia foi um momento de viragem e a Aqui É Fresco agarrou o desafio da digitalização não só transformando-se internamente como ajudando e impulsionando os parceiros nessa viagem, de forma a manterem a ligação ao consumidor - "melhorámos muito a nossa comunicação digital, lançámos as receitas diárias com produtos do folheto, para ajudar as famílias, aliámos a parceria às redes sociais e tem sido trabalho muito giro", reflete Carla Esteves. E a inovação mantém-se também para captar mais parceiros. "Ainda agora, em setembro, lançámos um projeto-piloto que passa por um cartão de fidelização, que estamos a melhorar a cada momento para o tornar mais apelativo a consumidores e lojas."

Se a pandemia até ajudou a animar os associados - "houve alguns fechos em 2020, mas muito mais ligados a pessoas que estavam mais velhas e não tinham a quem deixar a loja, já que há aqui uma componente familiar muito forte" -, com novas tendências de consumo a privilegiar a proximidade, Carla antecipa que a inflação que impacta fortemente o poder de compra dos portugueses terá inevitavelmente um efeito de "retração no consumo". Para já, o que se sente é que "as pessoas vão mais vezes à loja e compram menos de cada vez, mas ao fim do mês a despesa até é maior".

Mas se não antecipa que haja falta de produtos, admite que alguns deles podem ficar mais tempo nas prateleiras, uma vez que os preços subiram todos. "O tipo de produtos que as pessoas procuram é a grande alteração que registamos: há sobretudo um aumento de vendas na marca própria, que aqui não é tão representativa quanto nos hiper e supermercados, mas tem ganho espaço porque já alia uma boa qualidade a boa imagem e bom preço." O valor é cada vez mais um elemento-chave na decisão do consumidor, dada a escalada inflacionista. "Nesta dimensão, não há hipótese de não passar os custos logo para os retalhistas e sobretudo no início da guerra vimos isso mesmo: os aumentos eram diários e não havia hipótese de aprovisionar ou planear; os preços tinham de subir. Vimos isso nos óleos, e à boleia destes, nos azeites. Com o passar do tempo alguns produtos já voltaram ao valor normal", mas a maioria simplesmente estabilizou em alta, deixou de subir. "Se a inflação continua a fazer aumentar os combustíveis, vai ser muito complicado", receia a diretora-executiva da rede.

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