Novo fundo tem até 500 milhões para investir na economia real em 2023

De regresso a Portugal, o ex-Goldman Sachs António Esteves junta-se ao BTG Pactual e ao Atrium para dar vida ao Fortitude, fundo de capitais maioritariamente privados e "com capacidade de fogo que não existia no país". Primeiro projeto já está sinalizado, será na Agricultura, e deverá mobilizar 50 milhões.
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Numa economia "cronicamente deficitária de capital" e altamente dependente de financiamento bancário, lançar um fundo de investimento com capacidade e vontade de assumir risco e financiar negócios "sólidos e bem estruturados", que queiram expandir-se foi a necessidade identificada por António Esteves. O objetivo é dar um impulso aos melhores projetos de ADN nacional para crescer sem as tradicionais amarras do investimento público e cautelas do setor financeiro.

No seu regresso a Portugal, o economista desenhou o modelo que "faz falta ao país": um fundo maioritariamente constituído por capitais privados e "com uma capacidade de fogo que não existia", explicou António Esteves esta tarde, na apresentação do Fortitude, que já levantou 100 milhões na sua primeira recolha de capital.

Em parceria com o maior banco de investimento da América Latina, o brasileiro BTG Pactual, e com o Atrium, o Fortitude pretende "investir sobretudo em Portugal", preenchendo um espaço que até hoje se limitava a uma oferta com a componente de financiamento agarrada a estruturas públicas. Essa é a maior diferença apontada por António Esteves: "O Fortitude quer agarrar projetos agregadores e nacionais com uma capacidade de investimento de capitais maioritariamente privados e uma capacidade de fogo única que se materializa numa capacidade de fogo que se estende além do tamanho do próprio fundo, num máximo de 500 milhões de euros de fundraising até ao final do ano."

"As oportunidades estratégicas de investimento no país têm sido sobretudo aproveitadas por 'paraquedistas', que aproveitam contextos e oportunidades específicos", sem grande consistência. "Nós queremos trazer melhor capital a projetos agregadores e temos do nosso lado a capacidade multiplicadora do BTG, que garante uma capacidade estratégica única."

Do lado do Fortitude, detido em 37,5% por António Esteves, com igual percentagem nas mãos do BTG Pactual e os restantes 25% do Atrium, há uma equipa executiva "muito forte", liderada pelo português, à qual se junta um conselho consultivo que inclui nomes como Filipe de Botton e Alexandre Relvas, Paula Amorim e Luís Magalhães, António Domingues e Miguel Saraiva, que ajudarão a identificar e avaliar oportunidades de investimento. "Os sócios são os maiores investidores do fundo, assumindo assim o risco e a aposta nos projetos escolhidos", explica ainda o responsável.

Para já, na calha está um projeto que levantará 50 milhões de euros, que será revelado "antes do verão" mas que já se adianta estar integrado no setor agrícola. O que faz "todo o sentido" para o gestor, não apenas pelo potencial (subaproveitado) agrícola do país mas também por ser um setor em plena transformação, no âmbito dos desafios da digitalização e da sustentabilidade.

Até ao fim do ano, outros dois projetos deverão ser conhecidos, num valor de 200 a 250 milhões previstos para áreas que podem ir da saúde e energia aos conteúdos e entretenimento. "Somos agnósticos nas áreas de investimento, no tamanho das empresas em que podemos investir, etc. Qualquer empresa que venha ter connosco e precise de capital, que seja bem gerida, tenha um business case valorizado e capacidade de expansão internacional é uma candidata viável", concretiza António Esteves.

O objetivo é ajudar a libertar a economia real mais viável das dependências de uma banca cada vez mais avessa ao risco e dos habituais programas de capitalização públicos ou fundos privados, cuja dimensão e capacidade são "muito inferiores" ao potencial que o Fortitude assegura com uma rede de potenciais parceiros que se estende dos acionistas e clientes institucionais alinhados com o projeto a coinvestidores identificados que vão do grupo Carlyle ao Banco Português de Fomento (do qual o fundo recebeu 10 milhões de euros). "Queremos ser parceiros do governo, dos bancos, sobretudo da economia real, com a enorme flexibilidade que a constituição do Fortitude nos assegura. Com um capital de 20 milhões podemos chegar a transações de mil milhões", exemplifica António Esteves.

E frisa: "O que não vamos é apoiar empresas zombies que se vão mantendo ligadas às máquinas."

Com um retorno-alvo esperado a situar-se na casa dos 15% a 20%, o Fortitude aponta um ticket mínimo de 15 a 20 milhões de euros por investimento e não terá envolvimento nos negócios financiados, senão em decisões estratégicas.

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