Nuno Fernandes Thomaz: “Acredito no bom senso do Governo para harmonizar o IVA a 6%”

Em entrevista, líder da Centromarca diz que aplicar a taxa mínima a todos os alimentos “eliminaria incoerências e discriminações injustificadas”. Não diz quanto custa, remetendo para “o tempo certo”, quando se sentarem com o Governo. Terça-feira, no congresso, vai já sensibilizar os ministro da Agricultura e Economia.
O presidente da Centromarca, Nuno Fernandes Thomaz
O presidente da Centromarca, Nuno Fernandes ThomazÁlvaro Isidoro / Global Notícias
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O que podemos esperar deste terceiro congresso das marcas que decorre nesta terça-feira?  
Estes momentos são importantes porque juntamos a cadeia de valor  do setor alimentar e da higiene. Este ano, e como está associado à celebração dos 30 anos da Centromarca, tem todas as condições para ser mais um sucesso.

Foi recentemente eleito para um terceiro mandato e a harmonização do IVA alimentar foi uma das prioridades que elencou. Porquê?
Temos trabalhado neste dossiê com os nossos colegas da FIPA (federação das indústrias agro-alimentares) e da APED (associação de empresas de distribuição), o que muito nos orgulha, sob o “chapéu” da CIP, como uma estratégia de sensibilizar o Governo. Que o IVA pudesse ser aplicado à taxa mínima, de 6%, no setor do agroalimentar era o que nós desejaríamos num mundo perfeito.

Num mundo imperfeito contentam-se com o quê?
A meta é essa, não vou dizer um objetivo intermédio. É claro que isto é alvo de negociação, mas estamos confiantes. Não só eliminaria uma série de incoerências, diria até discriminações injustificadas, como nos tornaria mais competitivos fiscalmente face a Espanha. E como achamos que o Governo tem bom senso, acreditamos é atingível.

Numa legislatura?
Sim. As coisas não acontecem todas de repente e obviamente têm que ser feitas contas. Mas as razões que lhe apontei parece-me que chegam para sensibilizar um governo que tem bom senso.

Quanto custaria ao Estado?
É um valor que poderemos indicar daqui a algum tempo.  

Já fizeram a análise, mas primeiro vão reunir com o Governo, é isso? 
Sim. O Governo tomou posse há mês e meio, estamos à espera que seja o tempo certo para nos sentarmos. E no congresso vamos ter oportunidade de sensibilizar tanto o ministro da Economia com com o da Agricultura.

O que espera do Governo e do próximo Orçamento do Estado?
Boas coisas. Neste curto tempo tem-nos dado bons sinais que será um bom Governo. Quanto ao OE, estou convicto que é do interesse do país que haja estabilidade e que o orçamento vai passar. Não sei se com o voto do PS ou do Chega, mas estou confiante que vai passar.

É indiferente como passa, o que interessa é que haja estabilidade?
Exatamente. Os portugueses não estão habituados a este xadrez de termos três partidos, mas vamos ter que nos habituar.

A Centromarca pedia que o novo Governo priorizasse a reposição do poder de compra. Como é que isso deve ser feito?
A fiscalidade é o que toca mais diretamente no bolso dos portugueses e tudo indica que os consumidores poderão vir a estar mais aliviados em termos de IRS. Depois, há a questão das taxas de juro e, embora não seja do controlo do Governo, acredito que, no segundo semestre, já se sinta algum alívio.

2023 foi um ano difícil para as marcas de fabricantes. Quais as expectativas para 2024?
É um ano desafiante. Iniciamo-lo ainda com uma grande pressão nos consumidores e os primeiros meses não foram fáceis, mas estamos em crer que, à medida que o ano for avançando, teremos um consumidor um pouco mais folgado em termos de rendimentos. A verdade é que, com a instabilidade que vivemos a nível internacional, não podemos ter a certeza que vá acontecer. O mundo está a navegar à vista. Temos que estar preparados para o pior e esperar o melhor. É um cliché, mas é a nossa vida hoje.

Um consumidor mais folgado significa que está mais predisposto a comprar produtos de marca?
Esse tem sido o tema essencial no último ano, o crescimento das marcas próprias quase parecia que não tinha fim. Um alívio na carteira dos consumidores pode levar as marcas dos fornecedores a crescerem mais. O consumidor gosta sempre de ter a liberdade de escolha entre várias marcas. E termos mais marcas de fornecedores significa que também temos mais inovação próxima do consumidor.

2023 ficou também marcado por grandes protestos dos agricultores na Europa, como é que isso afetou o retalho alimentar?
Afetam sempre. Mas também fizeram com que, no seio da União Europeia, houvesse uma maior preocupação para discutir alguns temas e tentar consensualizar algumas afinações à diretiva das práticas desleais, que vai ser alvo de uma ampla revisão.

Fala-se muito na pressão da grande distribuição sobre os fornecedores, isso ainda é um problema?
Está bastante melhor, fruto também da relação que existe entre a Centromarca e a APED. Há momentos de tensão, mas sabemos conversar, tendo sempre presente que o importante é servir bem o consumidor.

O prazo médio de pagamento às empresas em Portugal é de 60 dias, Bruxelas quer cortar para 30. É um problema no setor?
Reconhecidamente há uma má tradição em Portugal nesta matéria. Há quem use os atrasos nos pagamentos como uma reiterada prática comercial desleal e é isso que queremos que acabe. É ambicioso querer passar de 60 para 30 dias, se calhar, pode ficar a meio. E não devem ser só as pequenas empresas a estar debaixo dessa diretiva, as grandes também e não só as do agroalimentar, mas também as do setor da higiene. Tudo isto tem um impacto enorme na economia, porque as empresas ficam cada vez mas estranguladas em termos de tesouraria o que, num país onde as empresas já estão altamente endividadas, origina falências e mais dívidas. Tudo o que for feito neste âmbito é uma boa notícia.

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