A Microsoft e a Nokia estão entre as empresas que hoje interpuseram uma acção contra a Google junto da União Europeia. Acusam-na de abuso de posição dominante com o sistema operativo móvel Android, e querem que a União Europeia actue. A ironia é tanta que dá vontade de rir.
O que não quer dizer que a queixa apresentada pela organização FairSearch, da qual as duas fazem parte, não tenha mérito. Mas ser a Microsoft, que abusou anos a fio da sua posição com o Windows, e da Nokia, que durante uma década foi a incumbente oficiosa no mercado dos telemóveis, tem a sua piada. É quase poético que estas duas empresas estejam a ser acossadas e precisem de recorrer à justiça para tentarem parar a avalanche do Android que as sufoca.
Vejamos os factos: o grupo FairSearch engloba 17 empresas tecnológicas, algumas relacionadas com serviços de pesquisa, e pretende que a União Europeia investigue a "conduta enganosa" que a Google supostamente usa para impedir as rivais de competirem a sério no mercado móvel. O objectivo da Google, diz o grupo, é "cimentar o seu controlo dos dados dos consumidores na internet para usar na publicidade online, à medida que a utilização se desvia para o móvel."
O FairSearch vai mais longe: "A Google está a usar o seu sistema operativo Android como um "Cavalo de Tróia" para enganar os parceiros, monopolizar o mercado móvel controlar os dados dos consumidores", segundo as palavras do advogado do FairSearch, Thomas Vinje, citado pela Bloomberg.
É possível que a União Europeia venha a concordar com isto, até porque tem estado a investigar a Google nos últimos dois anos devido às suas práticos no mercado dos motores de busca. O comissário da concorrência, Joaquin Almunia, fez mesmo um ultimato à Google para mudar algumas das suas práticas.
O Android tem agora 70% do mercado móvel e a Google domina 96% da publicidade móvel relacionada com pesquisa. Basicamente, o Android é o novo Windows. Da mesma forma que a Microsoft se tornou o "evil empire" nos anos
noventa, e abusou dessa posição do Windows para impedir a concorrência
real, a Google está a fazer o mesmo aliando o seu poder nos motores de
busca e na publicidade online ao seu novo poder nos sistemas operativos
móveis, dizem os acusadores. A Microsoft já tem um processo a correr em Bruxelas contra a Google, alegando que a rival promove os seus próprios serviços especializados no motor de busca, copia as críticas de restaurantes e viagens dos concorrentes e faz discriminação activa da concorrência. Nos Estados Unidos, a Google safou-se da investigação sem consequências. Na União Europeia, Almunia pretende chegar a acordo com a empresa e terminar a investigação.Concordemos que nenhuma gigante abdica da sua posição dominante voluntariamente. A Microsoft não o fez, a Apple também não, a Google não o fará se não for obrigada. Resta saber se há ou não infracção das regras da concorrência, mas a verdade é que qualquer empresa que ganhe um controlo absurdo no seu mercado se vê tentada a abusar dele.
Por outro lado, quando um império tecnológico é grande demais, a sua queda não é uma
questão de "se", é uma questão de "quando." Aconteceu à IBM, aconteceu à
Apple, à Nokia e à BlackBery, está a acontecer à Microsoft.
A
IBM e a Apple regressaram das cinzas, é verdade. É sempre possível a
ressurreição de uma marca poderosa; como é sempre possível que volte a
morrer ou se torne inconsequente. O MySpace, por exemplo, sucumbiu às mãos do Facebook e nenhuma injecção de capital no mundo terá o poder de mudar isso.
Nos próximos meses, Almunia vai analisar se as mudanças propostas pela Google são suficientes para acalmar as hostes na concorrência - o que é pouco provável, digo eu.
Tragam-me as pipocas, porque isto vai ser interessante.