A reposição de quatro feriados obrigatórios em Portugal, há três anos, veio reduzir a carga horária anual de trabalho dos portugueses. Mas a descida não reflete na totalidade a recuperação dos dias de descanso – é de apenas 27 horas, equivalentes a três dias e meio de jornada normal. Há meio dia que, estatisticamente, ainda fica por gozar. Os dias e as semanas estão cada vez mais longos para os trabalhadores portugueses.
No ano passado, os portugueses cumpriram em média 1781 horas de trabalho, segundo os últimos dados da agência europeia para a melhoria das condições de trabalho, a Eurofound, publicados no início deste mês. São menos 27 horas do que as 1808 horas trabalhadas em 2014, últimos dados para o período antes da reposição dos feriados eliminados no período da troika (Corpo de Deus, Implantação da República, Dia de Todos os Santos e Restauração da Independência).
Apesar disso, Portugal é dos países da União Europeia a 28 onde se trabalha mais horas. A média anual portuguesa representa quase mais 67 horas de trabalho que a média do grupo, equivalentes a 8,35 dias – quase semana e meia. Se compararmos com França, o país onde menos horas se trabalha, são mais quatro semanas e meia de trabalho.
A quarta semana mais longa da UE
As semanas de trabalho portuguesas continuam a crescer. Portugal é o quarto da UE com as semanas de trabalho mais longas. Desde 2014, as horas efetivamente trabalhadas passaram de 40,4 para 40,8. E o horário semanal de trabalho médio negociado em convenção coletiva, que estava antes em 39,3 horas, atingiu 39,4 horas no ano passado.
Portugal é ainda um dos países com menos feriados no bloco europeu, reconhece o Eurofound. São, desde 2016, 12 os dias de feriado nacional obrigatório. Mas junto a fins-de-semana ou perto deles garantem ainda períodos alongados fora do posto de trabalho.
Em 2020, o calendário dos feriados obrigatórios, sem contar feriados locais, vai garantir aos trabalhadores que estão fora do regime de laboração contínua e de outras situações de exceção quatro fins-de-semana longos e três pontes.
Duas dessas pontes e um dos fins-de-semana mais longos só vão existir porque houve a recuperação dos feriados do Corpo de Deus (11 de junho, 5.ª feira), Restauração da Independência (1 de dezembro. 3.ª feira) e Implantação da República (5 de outubro, 2.ª feira).
Os feriados assinalados no calendário não agradam no entanto a toda a gente. A Confederação Empresarial de Portugal (CIP), que se opôs à recuperação dos quatro dias, estimou o impacto da medida em três mil milhões de euros, então equivalentes a 1,72% do PIB. E as contas de associações empresariais de alguns sectores – metalurgia, metalomecânica, têxtil e construção - estimavam custos acrescidos de 20 milhões de euros por dia com retribuições aos trabalhadores escalados para os feriados.
Menos horas e mais estratégia
Mas, na gestão de pessoal, há avaliações diferentes. “Não verificamos que exista impacto negativo dos feriados na produtividade pois cada vez mais as empresas apostam na conciliação da vida pessoal com o trabalho”, refere a empresa de recrutamento Addeco.
No recrutamento, entende-se agora que o segredo para produzir mais valor pouco tem que ver com as pausas de calendário. “As questões dos feriados não impactam verdadeiramente numa organização estratégica e estruturada”, defende Mário Gonçalves, diretor na Hays.
“Se olharmos para os dados do tempo médio de trabalho na Europa, apenas a Polónia, Letónia e Grécia têm um maior o número médio de horas de trabalho anuais por trabalhador face a Portugal, o que demonstra que não é certamente o número de horas de trabalho anual que geram resultados mas sim a estratégia”.
O responsável da Hays refere também estudos da consultora segundo os quais, num mercado hoje com menor mão-de-obra disponível, os trabalhadores valorizam cada vez mais as empresas que permitem o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. “A flexibilidade de horários surge como o terceiro beneficio mais valorizado pelos colaboradores, com um total de 62% dos inquiridos a manifestarem essa preferência, o que nos permite concluir que atualmente para as organizações atingirem os parâmetros de produtividade almejados têm que naturalmente ter uma política de flexibilização interna que não encare a questão da existência de mais ou menos feriados como um obstáculo por si só”.