O desafio de executar o PRR

Publicado a

A economia portuguesa tem neste momento uma série de fatores estruturais que podem funcionar a seu favor, e que podem mudar a qualidade de vida dos portugueses. Desde logo, e olhando para uma lógica mais imediata, as taxas de juro começaram a descer - e devem continuar a descer no próximo ano. Isto significa que, numa economia endividada como a portuguesa, para muitas famílias e também empresas, a confiança e condições financeiras vão melhorar. Sobretudo pelo impacto que podem ter nos créditos hipotecários, dada a elevada exposição dos mesmos a estruturas variáveis, com indexantes Euribor. Esta será sem dúvida um elevado balão de oxigénio para as carteiras e capacidade de consumo dos portugueses que nos últimos anos têm enfrentado o impacto do aumento das taxas, na sequência do combate à inflação, que aparenta estar neste momento mais controlada - o que por si é também mais um catalisador favorável para o curto prazo - preços estáveis.

Noutra frente imediata, temos o regresso em força do Turismo. Os números indiciam que 2024 deverá continuar a ser de grande crescimento. De acordo com os números do Turismo de Portugal, até maio, o setor do alojamento turístico registou 3,1 milhões de hóspedes (+9,4%) e 7,7 milhões de dormidas (+7,5%), gerando 660,8 milhões de euros de proveitos totais (+15,5%) e 505, 9 milhões de euros de proveitos de aposento (+15,5%). O nosso país também continua a melhorar em termos de sazonalidade - ou seja, a procura pelo nosso país está menos confinada aos tradicionais meses do verão -, beneficiando também com o aumento da diversificação de mercados emissores que viajam noutras alturas do ano, e quando o clima é mais rigoroso na origem do que em Portugal. São notícias favoráveis para a economia. Sendo este um setor que direta ou indiretamente contribui atualmente para cerca de 19,6% da riqueza produzida, e cerca de 1,1 milhões de postos de trabalho, deverá ser um grande catalisador de crescimento e estabilidade do mercado de trabalho no próximo ano.

No entanto, Portugal depende também muito da implementação da agenda de reformas estruturais que permitam que o país possa dar um salto qualitativo para aquelas que são as grandes transformações das próximas décadas, e que estão sobretudo assentes nos planos de investimentos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), onde estão alocados significativos fundos europeus, e de cuja velocidade de implementação muito depende o futuro do país. As recentes leituras provenientes do Relatório da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR confirma os sinais de alerta que já existiam há quase um ano. A de que existem atrasos relevantes na implementação. De acordo com o relatório divulgado esta semana, apenas 5% dos projetos estão concluídos, e quatro em cada dez projetos encontram-se em situação preocupante, ou crítica - quer isto dizer, com risco mais elevado de se perderem as dotações. Há também notas no relatório que dão conta que a burocracia na apreciação das candidaturas, ou nas plataformas onde são colocadas as despesas e pedidos de pagamentos, se encontra muito acima do razoável. E estes entraves administrativos são um inimigo à boa implementação daquele que é provavelmente a maior oportunidade para estruturar economicamente Portugal em décadas. É, pois, por isso, vital vencer este desafio, o da implementação do PRR, e posicionar o país para crescer já, mas também crescer para melhor.

Luís Tavares Bravo, economista, presidente do Internacional Affairs Network

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt