O Estado do Governo      

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Não é injusto dizer que o Governo socialista tem pecado por ação e omissão, privilegiando uma política de um "dolce fare niente" que nem declarações espetaculares, promessa de aumento histórico das pensões, repto aos empresários para um aumento de 20% nos salários ou o aparatoso anúncio de recusar as restrições europeias do gás, indigna falta de solidariedade para países que mais nos têm apoiado, conseguem já disfarçar.

Numa soberana indiferença, e quando esses países vão reabrindo as centrais a carvão, o governo português mantém as nossas encerradas, pressionando as importações, 1000 milhões de euros no primeiro semestre do ano, as mais elevadas de sempre. Oxalá o torpor governativo não leve a eventuais apagões no inverno, já que a importação de energia não ficará imune à pressão das necessidades dos países mais dependentes do gás russo.

Um torpor tão enraizado que a primeira medida governamental de caráter estruturante, a localização do novo aeroporto, se despenhou logo no take-off, revertida em menos de 24 horas.

Em doce sonolência, o Governo não mexeu uma palha quando há muito se anunciavam ruturas graves nas urgências hospitalares; instalada a crise, logo se apressou a anunciar oportunísticas medidas ad-hoc, planos de contingência, sinal de que não tinha nenhum, comissões de acompanhamento, sinal de que não acompanhava nada, abertura a negociações com o setor privado, contrariando a Lei de Bases de Saúde hostil a qualquer colaboração, ou novo Estatuto do SNS, como se um regulamento alterasse o absurdo da Lei que visa servir.

O Governo criou o Banco Português de Fomento para promover a modernização das empresas, o apoio ao PRR e o desenvolvimento do país, mas só agora reparou que não encontrava Presidente com perfil adequado, à falta de um estatuto remuneratório similar ao dos bancos equiparáveis. Natural que o Banco não funcione em moldes aceitáveis, é a sua Comissão de Auditoria que o diz.

E ao ritmo de cada protesto de degradação dos serviços públicos, aumentam as dotações, enquanto a produtividade baixa, sinal de um governo adormecido que dá dinheiro sem cuidar da gestão.

Adormecido, e porventura já sonhando com o anúncio do ensaio da semana de 4 dias, girândola de fogo de vista tão de agrado nas festas de verão. Também lhe chamam fogo de lágrimas....

Economista

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