Os prémios da Fundação Manuel António da Mota são uma das iniciativas mais importantes no âmbito do que, por comodidade, chamaria “economia social”. Todos os anos, dezenas de instituições respondem ao apelo, revelando uma dinâmica que, a não existir, exponenciaria todo um conjunto de problemas de que os noticiários dão apenas uma pálida ideia. Entre os dez finalistas da edição deste ano, sob o lema “Sempre Solidários”, encontram-se organizações que se dedicam ao acompanhamento de crianças e mulheres vítimas de violência doméstica, à (re)inserção no mercado de trabalho, ao apoio a idosos, à conservação da natureza, etc. (consulte www.fmam.pt)..A ADDIM, uma IPSS do Porto, foi a vencedora deste ano com o projeto (De)Coração que procura dar resposta às vítimas de violência doméstica com carência económica, alojando-as e envolvendo-as em atividades de economia circular para promover a sua ocupação e sustento..Nos últimos anos, ganharam peso projetos desenvolvidos nas duas grandes áreas metropolitanas. A atração que estas exercem tem um reverso: a multiplicação de situações de exclusão, pobreza e violência. É, assim, digno de nota o segundo prémio ter sido atribuído à Câmara do Fundão pela política de acolhimento e atração de refugiados e estrangeiros. Num pequeno concelho do interior, com cerca de 27 mil habitantes, cinco mil são estrangeiros, incluindo mais de mil profissionais qualificados, capazes de dar novas dinâmicas à região. Ainda assim, a ignorância alimenta o preconceito: mesmo em terras com uma percentagem elevada de reformados, com queixas de falta de pessoas para trabalhar, há quem continue a ver nestes estranhos uma ameaça. Ignorância que é pasto fértil para ideologias extremistas. A isso, responde-se com inteligência e ação: o Fundão tem, hoje, uma vitalidade impossível sem o crescimento demográfico trazido pelos imigrantes. Inicialmente, pode-se estranhar. Se tudo continuar a ser feito de forma metódica e planeada, combatendo a inércia, a inclusão consumar-se-á e o Fundão ganhará. A inteligência vencerá a ignorância, a desconfiança e a ideologia. O interior pode ser exemplo..Economista e professor universitário