O Fator Trump

Publicado a

Muito se tem falado nos últimos tempos do impacto que as tarifas lançadas pela Administração Trump estão a ter no quadro da economia internacional na suas diferentes dimensões. Como recentemente Martin Wolf deu nota no Financial Times “o grau de incerteza e complexidade da economia está a alterar o padrão de comportamento de empresas e consumidores, com efeitos nos principais indicadores da atividade económica”.

As áreas do investimento e das exportações enfrentam desafios de difícil gestão mas o turismo, com todas as suas dinâmicas de redes internacionais, tem também pela frente tempos de incerteza e complexidade que obrigam a rever estratégias no terreno. O Fator Trump veio de facto para ficar.

Um dos principais fatores da ordem económica internacional atual prende-se com a confiança que se consegue manter entre os diferentes operadores – empresas e consumidores – num contexto de estabilidade de criação de valor com impacto na sociedade. A evolução das atividades económicas, com o efeito acelerador da inovação tecnológica, prende-se muito com o quadro de estabilidade contextual nas relações entre os diferentes países e a gestão das expectativas prende-se muito com a forma como a a cooperação internacional é gerida. A guerra comercial que se instalou com as tarifas impostas pela Administração Trump sobre muitpos produtos de vários países veio trazer um novo quadro de instabilidade com efeitos imprevisíveis nas suas consequências na atividade económica.

O turismo enfrenta também desafios complexos neste quadro. A gestão das expectativas nesta importante área económica prende-se muito com o sentimento de confiança que existe na economia internacional e os fluxos de escolha de destinos e as opções que se colocam em termos de mercados prendem-se muito com esta dimensão. O quadro económico global associado a estas medidas das tarifas veio naturalmente fazer retroceder as decisões de viagens de muitos turistas junto do mercado norte-americano e também condicionar as opções de muitos turistas americanos no exterior. Refira-se a este propósito a importãncia que os turistas americanos têm cada vez mais no nosso país e esperemos que esta tendência de crescimento se possa manter, com os efeitos positivos em termos de valor gerado para a nossa economia.

Os turistas privilegiam cada vez mais o efeito de demonstração de experiências de qualidade que permitam desfrutar de fatores de distinção como a natureza, a cultura e outros atrativos interessantes. Os hotéis têm sabido responder a esta procura cada vez mais exigente e diversificada e quer nas cidades quer nas zonas do interior as ofertas de qualidade têm surgido a um ritmo impressionante, potenciando uma resposta estruturada com efeitos positivos nas economias locais e na sua base económica. Importa por isso neste momento de mudança, e em linha com um benchmarking estratégico internacional inteligente, proceder a um reposicionamento da cadeia de valor da oferta hoteleira, apoiada por uma cultura de inovação aberta e de inteligência coletiva reforçada e sustentada.

As mudanças estratégicas ao nível do comportamento da oferta e da procura não se fazem por decreto. Assentam antes num processo colaborativo e participado de reforço de uma cultura digital e de promoção de uma agenda de inovação e valor capazes de mobilizar redes de conhecimento e de partilha de boas práticas. O turismo será cada vez mais um lab inteligente da economia competitiva em que todos acreditamos.

*Francisco Jaime Quesado é Economista e Gestor – Especialista em Inovação e Competitividade

Diário de Notícias
www.dn.pt