O gangue da Figueira da Foz

Ponha-se nos pés de um dos jovens que na Figueira da Foz rodearam e ajudaram na agressão a um rapaz de 15 anos. Vamos admitir até que você acha que o rapaz cometeu uma ofensa grave. Uma rapariga no grupo chega-se à frente e começa a agredi-lo. Você pode ajudá-la, cercando o rapaz, ou pode impedir a agressão, protegendo-o ou chamando um adulto. O que vai fazer?
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Lembre-se que você é um adolescente. Por um lado, você aprendeu com a sua família, na escola, ou na igreja que não se deve agredir alguém fisicamente ou participar em bullying. Mas, porque lhe falta experiência, você não tem a certeza se isso se aplica a esta situação. Por outro lado, você quer fazer o que os outros fazem. Também lhe têm ensinado o valor da socialização, da cooperação e do trabalho em grupo. Sendo adolescente, você provavelmente põe mais ênfase na importância de fazer parte de um grupo do que em qualquer outra altura da sua vida.

Sendo esta situação difícil e nova, você não sabe o que fazer. Se tivesse tempo para discutir com os seus amigos, provavelmente iam todos concluir que era errado cercar e bater noutra pessoa. Mas, naquela altura, você hesita e não sabe o que é que os seus amigos estão a pensar, que por sua vez não sabem o que é que você está a pensar.

Neste impasse, recebemos um sinal. Uma rapariga começa a agressão. Não só isso revela que ela acha que esta é a ação correta mas também, tão ou mais importante, ela está a mandar um sinal público para todos. Porque eu quero fazer o que os outros fazem, e sei que todos vêm a rapariga, a liderança dela leva-nos a coordenar na agressão como sendo a ação certa.

Porque usamos a líder para coordenar as nossas ações, pomos demasiado peso na sua opinião. Ela permite-nos coordenar, fazer o mesmo. Por isso, pomos peso a menos no nosso instinto que nos diz que devíamos parar a agressão. Seguimos em manada, não paramos para pensar.

O que podemos fazer para impedir estas situação? Depois da agressão, podemos castigar os participantes. Pôr a ênfase exclusiva na líder é um erro: em qualquer situação, alguém vai tomar o primeiro passo, e levar à coordenação do grupo. Castigar todos por terem coordenado na ação errada é melhor, mas, em muitas outras situações, queremos recompensar os jovens por trabalharem em grupo e cooperarem com outros. Não é fácil para um jovem distinguir os dois numa situação nova.

Antes da agressão, podemos cultivar algum individualismo. Se entre amigos existem opiniões muito diferentes, é mais difícil coordenar. Se você sabe que costuma discordar dos seus amigos, e estão habituados a discutir e perceber os outros, você vai prestar mais atenção à sua cabeça e menos ao primeiro passo do líder. Quando protegemos a diferença nos jovens, incluindo nas suas opiniões sobre política, crenças, ou orientações sexuais, e damos alguma liberdade às famílias e às escolas na forma como educam os jovens e nos programas de ensino que adotam, promovemos uma sociedade com menos gangues.

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