Na semana passada, ficámos a conhecer as cinco leis do ouro que tornaram Arkad o homem mais rico da Babilónia:
Necessidade de poupar 10% dos rendimentos.
Investir as poupanças.
Escutar quem percebe dos negócios.
Investir naquilo que se percebe.
Usar só a razão e nunca a emoção.
Apesar de terem sido escritas há 100 anos, estas cinco leis continuam válidas. Porém, em 100 anos muita coisa mudou e alguma reflexão adicional se impõe.
Atualmente vivemos numa sociedade em que o Estado providencia alguma segurança contra ocorrências inesperadas, como uma doença ou uma situação de desemprego, por exemplo. O facto de o Estado ficar com quase metade dos nossos rendimentos em impostos para poder estar presente quando sofremos um revés, já nos permite reduzir o nosso esforço de poupança. Para além disso, hoje em dia também temos a possibilidade de contratar vários seguros que cobrirão eventualidades que nos possam surgir. Por isso, os 10% de poupança que Arkad aconselha a realizar podem ser diminuídos, portanto, a primeira lei pode ser analisada com o afrouxamento da exigência descrita, seja porque o Estado já assumiu por nós alguns desses riscos, seja porque podemos incluir nas nossas despesas periódicas os prémios dos seguros que nos permitem transferir esses riscos para as seguradoras.
Algo que pode também ser questionado é a justificação em fixar o valor da poupança em 10%. Para além de não haver um racional para este valor, estamos a ignorar a possibilidade que o sistema financeiro nos dá de recorrer ao crédito e assim alavancar os nossos investimentos. Por exemplo, se investirmos 5% do que ganhamos e lhes juntarmos mais 10% de um financiamento, podemos conseguir ganhos superiores relativamente a investir apenas 10% do nosso capital. Evidentemente que o efeito de alavancagem tem limites, pois à medida que nos endividamos, aumenta o nosso risco de incumprimento, o que tem dois efeitos: por um lado, pode destruir a nossa riqueza, e por outro, torna cada vez mais caro o financiamento que obtemos, diminuindo a rentabilidade que conseguimos obter. "Alavancar" a rendibilidades dos seus capitais, é o que fazem (praticamente) todas as empresas.
Na altura em que o livro foi escrito e no período histórico em que se desenrola a ação, o Estado providência era muito fraco ou inexistente no que dizia respeito a assegurar um rendimento que pudesse sustentar as pessoas após a sua vida ativa. Mas na verdade, isso também não era um problema da sociedade na altura, pois eram raras as pessoas que viviam tempo suficiente para se aposentarem, uma vez que poucas ultrapassavam os 40 anos de idade. Entretanto, os sistemas de pensões que foram criados vieram colmatar essa necessidade crescente, apesar de também já ter passado o tempo em que quem se reformava conseguia obter um rendimento semelhante ao que tinha durante a vida ativa. Fruto do dilatar do tempo que as pessoas passam aposentadas e da diminuição de contribuintes ativos (que suportam as pensões de quem está aposentado), os valores das reformas tendem a ser cada vez menores. Por isso, torna-se necessário prever uma fonte de rendimento adicional para a altura da vida em que já não estamos na posse de todas as faculdades que tínhamos com 30 e 40 anos. E esse esforço deve ser iniciado o mais cedo possível. Por exemplo, se começar a realizar uma poupança de 100 euros por mês aos 25 anos e aplicar a uma taxa de juro de 3%, quando chegar aos 70 vai poder ter uma renda mensal de quase 800 euros por mês até aos 85.
Como saber em que aplicar? Nas primeiras décadas de vida ativa, podemos escolher produtos financeiros mais arriscados, que estão associados a maior remuneração; mas à medida que nos aproximamos da idade da reforma, a maior parte de nós já não está em condições nem tem disposição para realizar uma gestão ativa dos seus investimentos, pelo que deve escolher aplicações de capitais conservadoras - ou seja, de muito baixo risco, o que acarreta também uma baixa remuneração.
Estas leis omitem ainda uma variável muito importante: a diversificação. É certo que referem que devemos fazer investimentos depois de nos termos informado profundamente e só naquilo que conhecemos muito bem. Mas temos que explicitar que devemos seguir a regra de não colocar os ovos todos no mesmo cesto e tentar diversificar o máximo possível os nossos investimentos.
Docente do Ensino Superior nas áreas de Economia e Finanças