Mas, claro, o Brasil é um país e a UE um conjunto de países. O primeiro foi fundado, cresceu e desenvolveu-se quase sempre em paz e com uma língua, uma história e uma cultura, apesar de diversificada, comuns; a segunda foi erigida como uma especíe de armistício em cima de séculos de guerras e ódios entre países e povos distintos.
Daí que se compreendam melhor os antagonismos dos últimos anos entre o motor económico do continente, a Alemanha, e o menos eficiente sul da Europa, os PIGS na sigla inglesa (Portugal, Itália, Grécia e Espanha), do que os ódios nascidos da eleição brasileira entre São Paulo, a locomotiva do país, cujos habitantes votaram numa proporção de dois em cada três em Aécio Neves, e o Nordeste, a vasta e carente região que escolheu, por mais de 70 por cento, Dilma Rousseff.
Para os paulistas, talvez capazes na sua maioria de pagarem planos de saúde e escolas privadas, a hora era de colocar no poder um governo mais pró-negócio e anti-estado - nada de errado nisso, são esses os anseios de uma população que, na sua generalidade, já não se debate com problemas básicos. Em São Paulo, a capital estadual, os problemas são até menos derivados da falta e mais do excesso - as vias estão entupidas porque há carros a mais, a maioria deles comprados na Era PT.
Para a maioria dos nordestinos, os programas sociais desenvolvidos por Lula e Dilma garantiram o fim de uma vida miserável. O acesso, menos difícil, à universidade e a dependência cada vez menor da sorte (jogar bem à bola ou formar uma banda de sucesso) para ter uma vida decente.
Com Dilma, o Produto Interno Bruto (PIB) tornou-se pibinho. Mais dogmática, em relação à intervenção do estado, e menos sortuda, por causa da desaceleração de consumo chinesa, do que o antecessor, a presidente teve, para desespero sobretudo da máquina de produção paulista, uma prestação económica sofrível. Medíocre, talvez.
Mas contribuiu para que o país continuasse a bater recordes no plano social que deviam orgulhar todos os brasileiros, paulistas incluídos: o Brasil desapareceu do Mapa da Fome da ONU este ano. No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede, de facto, o que é o desenvolvimento a prazo de um país, subiu com consistência no ranking da expetativa de vida, da expetativa de anos de estudo, da média de anos de estudo e do rendimento nacional bruto per capita.
Não é egoísmo votar tendo em conta mais os nossos interesses do que os do vizinho - pelo contrário, o voto é individual e é da diversidade que se alimenta a democracia. Mas não entender porque o vizinho vota de forma diferente já é egoísmo. E intolerância.O egoísmo e a intolerância que provocaram séculos de guerras e ódios na Europa.