Depois da realização do Arraial Lisboa Pride e das manifestações que ocorreram um pouco por todo o mundo durante o mês do orgulho, há, ainda, todo um programa para dar voz às comunidades LGTBQIA+. Apenas nove anos nos separam da data em que, em Portugal, a transexualidade deixou de ser considerada como doença e se tornou uma decisão pessoal, sem que haja obrigatoriedade de apresentação de relatório médico para efetivar uma mudança de nome e género no registo civil.
As pessoas trans e não-binárias eram submetidas, até 2013, a tratamentos mesmo que não o desejassem, ignorando a vontade de cada um. Contudo, trans e não-binários continuam a sofrer com a identidade de género legal e quanto mais formas existirem para resolver esta questão e afirmar a respetiva identidade, melhor viverão a sua vida. São muitos aqueles que não se integram no binário homem/mulher e a questão da autoescolha do nome é, na maioria dos casos, o primeiro passo rumo a uma nova identidade.
Aliás, um estudo feito em maio passado para a empresa a que pertenço, em 16 países da Europa e da América do Norte, incluindo em Portugal, revelou que 2,8% das pessoas inquiridas no nosso país identificaram-se como não-binários, ou seja, fora da categoria de género "homem" ou "mulher". Um número que, na Geração Z, sobe para 3,8%.
Ou seja, o nome escolhido para uma nova vida assume, de facto, particular importância. Sabemos que existem muitos universos da sociedade em que a inclusão de alguém que tem um nome que parece não corresponder ao género e visual, se torna um obstáculo diário na concretização de questões básicas. Todos nós queremos pagar em nome próprio, mostrar que somos independentes, autónomos e inclusive autossuficientes. É uma forma de autoafirmação, autoconfiança e segurança que assume particular importância nestas comunidades. A inclusão das pessoas trans e não-binárias deve acontecer em vários quadrantes da sociedade, mas naturalmente, a inclusão financeira é primordial. Algo que parece tão óbvio como ter um cartão de débito ou crédito com o nome que desejado.
Foi o que fez o Bunq, um neobank de origem nórdica que criou o cartão True Name e que nós temos o enorme orgulho de apoiar, e que representa uma etapa gigante na vida de uma pessoa trans e não-binária. É uma vitória para alguém que vê permanentemente a sua identidade posta em causa, poder dar a perceber, a quem está do outro lado, quando efetua uma transação/pagamento, que tem essa legitimidade, que é dada por uma instituição financeira global. De tal forma este cartão foi importante que cerca de 3.300 pessoas aderiram no imediato a esta mudança de nome no cartão de débito ou crédito e mais de 100 mil visitaram o website para saber mais sobre este programa. Mesmo sendo um work in progress, sempre em aperfeiçoamento constante, as alternativas que existiam, eram limitadoras da liberdade individual. Estas comunidades podiam escolher entre utilizar apenas cash para fugir a esta questão incómoda no dia-a-dia, utilizar cartões que não correspondiam ao visual exterior de quem os usava ou comprar online.
Aliás, ainda segundo o mesmo estudo, 57% dos portugueses entende que as pessoas da comunidade não-binária não se queiram identificar como homem ou mulher e 50% diz mesmo que percebe que essas pessoas não queiram ser tratadas como homem ou mulher no seu dia a dia.
Grandes e pequenos comércios começam a aderir também a esta iniciativa e criam a possibilidade de ter os seus cartões de fidelização com o True Name e permitir que todos continuem a comprar aquilo que gostam em nome próprio, sem receios.
Na verdade, ter um cartão para compras com o nosso True Name é um imperativo moral e é uma das muitas formas de caminharmos para equidade, passando uma mensagem clara às instituições financeiras e bancárias, mas também à sociedade no geral, daquilo que é a vontade das pessoas trans e não-binárias, mas também dizer que os produtos têm de encaixar com os vários tipos de utilizadores. É também a forma de abraçarmos a diversidade e a inclusão como força orientadora para todas as empresas, sobretudo aquelas que devido à sua dimensão mundial podem fazer a diferença na igualdade de oportunidades.
Maria Antónia Saldanha, country manager da Mastercard Portugal