Tenho um filho mimado. Em seis, só tenho um mimado. É uma novidade e confesso que estou a adorar a experiência de ter um filho mimado. Para quem não sabe, um filho mimado é uma criança que tem caprichos e que vê esses caprichos satisfeitos em segundos ou então chora e faz birras. Faz cara de amuado e cruza os braços como os miúdos mimados dos filmes e bate com os pés sempre que é contrariado. Não tem medo de nada, apenas de não ter aquilo que quer e vai à luta com toda a má-criação que encontrar dentro de si. Sem vergonha das figuras que faz e sem medo das consequências porque raramente as birras que faz têm consequências.
A minha avó dizia que as crianças não têm quereres, pois uma criança mimada tem o dobro dos quereres da sua altura medida em centímetros. O meu sexto filho é assim. Ainda ontem percorri várias lojas chinesas à procura de cartas dos pokémons porque ele queria. Com os outros, as cartas seriam presente de anos, com este, são ordens. Acham que eu contei a alguém por onde andei ao final de tarde? Claro que não, tive vergonha. Mas comprei-lhe a maior caixa de pokémons da loja e a minha alma maravilhou-se quando ele sorriu e disse "obrigado, mãe". Isto é um filho mimado.
Os outros filhos tentam em vão educá-lo e só pioram as coisas. Tentam compensar o meu mimo com ordens e calduços porque "ele não pode ser assim". Tanto pode que é, coitadinho, e eu duplico o mimo para compensar a compensação deles. O meu mais novo sabe que tem em mim o refúgio dos irmãos, uma espécie de cão de guarda que ataca sempre que o sente sob ameaça, ou seja, a gritar. No outro dia ouvi-o: "Se não paras de me chatear eu grito e a mãe passa-se contigo." O outro, com o dobro do tamanho, encolheu-se e parou imediatamente de querer educar o irmão mais novo todo estragadinho.
A minha avó também dizia que não se pergunta nada às crianças - se elas querem ou gostam de coisas - porque é meio caminho andado para ficarem mimadas. Vamos dormir? Queres ir jantar? Gostas do peixinho? Proibido. Eles ganham sempre quando perguntamos. A minha avó, que era a Isalita da boa educação, teria ficado profundamente desencantada com sua netinha se soubesse a quantidade de coisas que eu pergunto a este seu bisneto. Eu até lhe pergunto se ele quer tomar banho e sou eu quem lhe pergunto se não quer um ovo Kinder e mais um sumo ou um bolinho.
Este meu filho não come tudo o que tem no prato, deita-se a horas indecentes, faz birras para estudar e é o verdadeiro dono do comando da televisão. Mas o pior não é nada disto, o pior é que eu rio como uma mãe senil daquele poço de mimo. Há quem o chame Mogli pela falta de regras que regem a sua existência. E é.
Voltando ao mimo. Este meu filho é o genuíno menino da mamã, o meu menino. E o que é isso? É um menino que diz "olha, que eu digo à mãe", que sabe fazer olhinhos de mimado para conseguir mais uma hora de telemóvel, que não se veste sozinho por preguiça, que não tem paciência para atar os sapatos e a quem a mãe trata por o meu menino e corta a carninha para ficar mais tenrinha. Ninguém imagina o quanto este meu filho é feliz. Tem sete mães e pais que se derretem com um abracinho seu, com os miminhos do nosso menino da mamã mimado. Não há nada melhor que excesso de mimo, é o que vos digo.
Jurista