A recente medida de isenção de IMT e Imposto do Selo para jovens até 35 anos soa como música aos ouvidos daqueles que sonham com a primeira casa. Mas vamos ser realistas: a verdadeira barreira para a aquisição de imóveis pelos jovens portugueses vai muito além dos impostos.
Os baixos rendimentos e a precariedade dos primeiros empregos são obstáculos muito mais significativos e a isenção fiscal não consegue sequer arranhar. Portanto, mesmo com essa medida, o número de transações de imóveis por jovens continuará a ser diminuto.
Embora a isenção de IMT e Imposto do Selo ofereça um alívio financeiro, não esperemos um impacto significativo na procura, e muito menos nos preços das casas. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgou um estudo no mês passado, destacando Portugal como o país onde a dificuldade para comprar casa mais aumentou. Este dado alarmante reflete uma realidade para a qual a CENTURY21 Portugal tem vindo a alertar há anos: o mercado imobiliário português está cada vez mais fora do alcance dos jovens.
Os nossos agentes imobiliários, que enfrentam diariamente as vicissitudes do mercado, testemunham as dificuldades que os jovens enfrentam na busca pela primeira casa. Em 2019, um estudo da CENTURY21 Portugal evidenciava essa dificuldade ao cruzar os valores das casas com os rendimentos líquidos das famílias portuguesas. Repetimos o estudo em 2023 e os resultados são desanimadores. A disparidade entre os preços dos imóveis e os rendimentos só cresceu, piorando ainda mais a situação.
Para enfrentar de verdade essa crise é crucial aumentar a oferta de imóveis, especialmente nas áreas metropolitanas, como a Área Metropolitana de Lisboa (AML). Além disso, é essencial criar condições para aumentar os rendimentos líquidos das famílias. A comparação com Espanha, feita em 2023, revela um contraste gritante.
Enquanto em Portugal a oferta de imóveis é insuficiente, em Espanha há mais opções ajustadas à classe média, com casas mais pequenas e técnicas e códigos de construção mais avançados. Os rendimentos líquidos médios em Espanha são significativamente superiores aos de Portugal, exacerbando ainda mais as dificuldades no mercado imobiliário português.
É verdade que a maioria das famílias portuguesas são proprietárias das suas casas e que muitas já liquidaram totalmente as suas hipotecas, o que é muito positivo e permite que muitas famílias possam ajudar os seus filhos no acesso à sua primeira habitação. No entanto, isso não ajuda os jovens que estão agora a tentar entrar no mercado, enfrentando preços exorbitantes e rendimentos irrisórios.
Os estudos de 2019 e 2023 realizados pela CENTURY21 Portugal*, oferecem uma análise detalhada da evolução do mercado imobiliário português e das dificuldades enfrentadas pelos jovens na compra da sua primeira casa. A realidade é clara: medidas como a isenção de IMT e Imposto do Selo são benéficas, mas insuficientes. É necessária uma abordagem mais ampla que inclua a melhoria dos rendimentos e um aumento significativo na oferta de imóveis para tornar o sonho da casa própria acessível aos jovens portugueses.
Este é um debate urgente que exige ação conjunta entre Governo, setor imobiliário e sociedade para garantir que as próximas gerações possam alcançar a segurança e estabilidade que a casa própria proporciona.
* Estudos Referenciados:
- Estudo Portugal 2019 - Estudo Portugal 2023 - Estudo Espanha 2023
CEO CENTURY 21 Portugal e Espanha