Não vale a pena mentir e dizer que não vai custar, que a decisão foi fácil e que acredito que vai correr tudo bem, sem percalços. Vocês bem sabem que a história de qualquer fazedor se faz de altos e baixos, avanços e recuos, quedas e cambalhotas, narizes a bater em portas e muito trabalho de bastidores. Disseram-mo vezes sem conta nas mais de, nem sei quantas, entrevistas ao longo destes cinco anos.
Deixem cá ver, fazendo contas por alto, quatro fazedores por semana, multiplicados por 52 semanas por ano vezes cinco. Ajudem-me que, assim entre tanta coisa, nem me oriento. Devem ter sido mais de mil. Mil entrevistas.
Emails, telefonemas, deslocações. Pessoas de quem decorei os nomes e que voltei a contactar quase sempre, fazedores em série que fui acompanhando no lançamento do primeiro negócio e dos seguintes, desconhecidos que se tornaram amigos próximos e uma pergunta comum e recorrente da vossa parte: “Posso tratar-te por tu?”
Foi nesta informalidade tantas vezes repetida que percebi que o segredo não está na distância mas na proximidade. Quando se fala na carreira e começamos a traçar o nosso perfil profissional, uma das coisas que nos ensinam é que a intimidade e a informalidade nos podem prejudicar, e que a distância pode ser fundamental para ver as coisas claramente. Tudo bem, não censuro quem não conhece outra coisa. Mas convosco, meus fazedores, aprendi que podemos fazer um melhor trabalho sempre que nos aproximamos.
Vi isso com a Cristina, que chateei demasiadas vezes na semana em que abandonou a Talkdesk. As vezes suficientes para me atender o telefone e me contar como foi. Vi isso com o André, porque acredito que, também graças àquela história do porco de Grândola, o João decidiu impedir que o THU fosse embora de Portugal. Percebi isso pelo Miguel, que me confidenciou o valor do investimento que a Uniplaces arrecadou dias antes de eu viajar para Dublin, onde a startup anunciaria o financiamento. Deduzi isso pelos cafés à pressa com a Filipa, nas passagens curtas da fundadora da Chic by Choice por Lisboa, sempre vinda de Londres onde a startup tem um escritório. Vi isso mil vezes, juro.
Há um brilho nos vossos olhos, sempre que nos encontramos, que me inspirou sempre, nestes cinco anos, a tentar saber mais sobre vocês. Não sei explicar bem mas esta nossa história de cinco anos aguçou-me a curiosidade, levou-me a ir trabalhar para Buenos Aires e a gastar todas as minhas férias e folgas de 2015, numa bolsa para colaborar com uma redação em Nova Iorque. Convosco aprendi tanto. E mais: que o segredo não é a alma do negócio. A alma é que é o segredo do negócio. Por isso, sejam vocês fazedores ou outra coisa qualquer, a alma ninguém vos tira. Desculpem-me contar este segredo. E obrigada.
P.S.: Não vou desaparecer. Não desapareçam também. Vemo-nos por aí, mais depressa do que vocês imaginam.
Mariana de Araújo Barbosa é Editora executiva e jornalista do Dinheiro Vivo desde 2011. Escreve Histórias de Fazedores uma vez por mês, no Dinheiro Vivo.