O Mundial está a chegar e a violência aumenta no Rio

As forças de segurança do Rio de Janeiro ocuparam mais uma favela, em resposta a mais uma onda de violência na cidade. É a 38ª ocupação da polícia militar desde 2008, no âmbito de um programa de pacificação do Rio, mas, a três meses do início do Mundial de Futebol, a guerra entre traficantes de droga ganha força e a segurança que foi sendo conquistada está sob ameaça.

Na manhã de quinta-feira, a polícia militar brasileira entrou armada na Vila Kennedy, na zona oeste da cidade. É mais uma favela a juntar-se às restantes 37 que, de acordo com os dados da secretaria de Estado da Segurança brasileira, foram ocupadas desde 2008. Desta vez, a ocupação foi feita em 20 minutos, sem resistência e sem recurso às armas de fogo, disse ao jornal brasileiro O Globo o chefe de Estado Maior Operacional da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Com os traficantes de droga a voltarem a ganhar terreno na cidade - incluindo numa encosta entre Ipanema e Copacabana, o que vem desestabilizar a paz conquistada com a construção de estações policiais nesta zona - o maior destino turístico brasileiro está a enfrentar sérias dificuldades para colocar um travão à violência antes do Campeonato do Mundo, que arranca em junho.

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"Os ataques às Unidades de Polícia Pacificadoras aumentaram", diz à Bloomberg Alba Zaluar, antropologista da Universidade Estadual do Rio. "Os traficantes trouxeram as armas de volta às favelas e lutam entre eles pelos pontos de distribuição. Uma vez mais, são bandidos contra bandidos nas favelas que estavam pacificadas."

Os homicídios no Rio de Janeiro aumentaram 10% no ano passado, para um total de 1323, depois de, em 2012, terem diminuído para os números mais baixos de duas décadas, revelam os dados do Instituto de Segurança Pública brasileiro. O secretário de Estado da Segurança, José Mariano Beltrame, garantiu ao Globo que as autoridades não vão recuar perante os grupos criminosos que regressam agora às áreas que dominaram durante décadas.

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Mas os acontecimentos recentes contrariam a posição do governo brasileiro. O comunicado de Beltrame foi feito pouco depois de terem ocorrido confrontos violentos na Rocinha, também pacificada, onde, a contar com o Mundial, há alojamento que chega a rondar os 360 euros por noite, de acordo com a Bloomberg. Já no mês passado, a Vila Kennedy foi palco de protestos que acabaram com disparos e autocarros incendiados.

Embora o programa de pacificação tenha tornado a cidade mais segura, focou-se essencialmente na apreensão de armas de fogo, em vez de combater o tráfico de drogas.

Este ano, até à data, já três polícias foram mortos em serviço, o mesmo número que no conjunto do ano passado. Os polícias assassinados operavam no Complexo do Alemão, um conjunto de várias favelas na zona norte do Rio. Durante muito tempo, esta foi uma das zonas mais violentas da cidade e, em 2010, foi o alvo da maior ocupação militar da história do Brasil. O percurso desta zona, da violência à pacificação, é contado no filme "Alemão", que estreou esta quinta-feira no Brasil.