Nos últimos anos, o exercício das previsões no setor do turismo constituiu uma tarefa relativamente confortável. Crescimentos médios do VAB em torno dos 8% refletiram saúde. E saúde felizmente democrática: sentida por todas as regiões.
Foram milhares os exemplos de bom empreendedorismo correspondidos por procura internacional exigente. O turismo foi a principal atividade impulsionadora do crescimento da economia nos últimos anos, com reflexo na criação de valor e emprego.
Vivemos assim até início de 2020. Subitamente, o turismo foi confrontado com a covid-19 e logo uma alteração substancial de todas as "verdades" que vivenciámos intensamente nos últimos anos. De repente, uma crise de procura global veio condicionar quase por completo a liberdade de circulação. Nesse instante, a confiança na mobilidade esfumou-se e, com ela, vimos aviões em terra, companhias aéreas intervencionadas e turistas em casa... Tudo isto com consequências brutais do ponto de vista económico e social. E se é de louvar o esforço público na manutenção do emprego e das empresas, não nos iludamos: sem clientes não há atividade.
Entramos, pois, em 2021 num quadro de grande inquietação e incerteza. Para mitigá-las, o plano de vacinação constitui fator instrumental no desenho de um princípio, de restaurar de confiança. Será neste quadro que assistiremos a alguma recuperação. Integrando agora as questões sanitárias como novo fator numa opção de viagem. Aqui, Portugal foi pioneiro no lançamento do programa Clean and Safe, procurando comunicar de forma antecipada esta garantia. Este trabalho não está terminado: é urgente continuar a atuar neste conjunto de saúde e economia.
Ainda em resultado da incerteza, sentimos até nas instituições internacionais de referência divergências sobre a data de real recuperação: a IATA aponta 2024, os peritos da OMT 2023, o Banco de Portugal 2022... Uma coisa parece consistente: a recuperação do turismo estará sempre ligada ao que acontecer na aviação. Para Portugal, o avião é o meio de transporte usado por mais de 90% de quem nos visita.
Adicionalmente, falar de recuperação do turismo é falar do futuro da TAP. Ainda há dias no Parlamento a secretária de Estado do Turismo afirmava que 45% dos turistas que chegam por avião fazem-no em aviões TAP. Diretamente ou em conexão. Recordo a dimensão da conexão porque assistimos muitas vezes à discussão pouco informada sobre o tema. O modelo de concentração em hub e posterior distribuição a outros destinos é feito pela TAP e pelas outras legacy carriers. Reduzir tempos de conexão para assegurar maior competitividade aos destinos nacionais constitui sem dúvida um dos maiores desafios futuros.
É assim com natural expectativa que aguardamos a decisão da Direção-Geral de Concorrência sobre o plano de reestruturação submetido a Bruxelas pelo governo. Aí jogar-se-á o futuro da TAP, e antecipo, da economia. A recuperação será lenta, mas ajudará o trabalho desenvolvido ao longo dos anos por Portugal e suas regiões. Foram muitos prémios e o trabalho não se perdeu, afigura-se aliás essencial à recuperação que, com esperança, todos ansiamos. Nesse quadro, avancemos lúcidos com confiança.
Administrador PortoBay Hotels & Resorts