“O país tem a ganhar se os seus profissionais aprenderem a utilizar a inteligência artificial”

Presidente da ACEPI, Alexandre Nilo Fonseca, nota que já há uma "grande sofisticação da utilização" da internet por parte dos portugueses e que agora cabe também aos profissionais assegurarem que estão aptos para trabalhar num mundo empresarial cada vez mais digital.
Presidente da ACEPI, Alexandre Nilo Fonseca. Foto: Reinaldo Rodrigues
Presidente da ACEPI, Alexandre Nilo Fonseca. Foto: Reinaldo Rodrigues
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Alexandre Nilo Fonseca, presidente da ACEPI, a Associação da Economia Digital, focada na promoção e desenvolvimento do comércio eletrónico e da digitalização em Portugal, antecipa alguns dos resultados do Estudo da Economia Digital em Portugal, publicado anualmente e que será divulgado na próxima semana. Os resultados apontam para um aumento da utilização mais sofisticada da internet, notótio pelo "salto significativo" das compras online e do homebanking, que estão ambos a crescer acima dos 60%. Ao mesmo tempo, a frequência de utilização da internet já está acima dos 80% da população portuguesa, ao mesmo tempo que se torna mais evidente a redução de pessoas que nunca utilizaram a internet.

Nas vésperas do Portugal Digital Summit, que se realiza em Lisboa a 23 e 24 de outubro, o presidente da ACEPI fala, contudo, da necessidade de Portugal perseguir o "grande objetivo de uma nação inteligente", que é o de não deixar ninguém para trás no compromisso de tornar o país mais digital e, com isso, empresas e os portugueses beneficiarão.

 

Com a crescente popularidade de ferramentas de inteligência artificial generativa, como o ChatGPT, como se está a transformar o comércio eletrónico e as interações digitais entre empresas e consumidores?

Vale a pena entender que os últimos anos foram de grande transformação em Portugal. Claro que a pandemia acelerou, mas hoje os portugueses são muito mais digitais do que eram há cinco anos. Quando digo digitais, estou a pensar na utilização diária da internet. E isso, obviamente, vai afetar a digitalização das próprias empresas.

Através dos hábitos de consumo?

Dos hábitos de consumo e não só. Do consumo não só na perspetiva dos produtos e serviços que os consumidores podem adquirir, mas também na utilização do homebanking, de serviços públicos digitais. Só para termos uma ideia: hoje, há muito mais portugueses a utilizar a internet de forma mais frequente e de forma mais sofisticada. A ACEPI publica um estudo todos os anos – vai publicá-lo em breve –, e eu já tenho na minha cabeça os principais indicadores. Aquilo que nós vemos hoje é, por exemplo, que entre 85% a 90% dos portugueses já utiliza a internet. Grande parte são utilizadores frequentes, utilizam várias vezes ao dia, várias vezes à semana, várias vezes ao mês. Vale a pena também dizer aqui que houve uma grande sofisticação da utilização. Portugal, até há uns anos era o país que liderava o ranking da utilização das redes sociais e das pesquisas na internet. Era uma utilização efetiva, mas não muito sofisticada. Enquanto que, por exemplo, hoje em dia, quando nós olhamos para dois indicadores, como a utilização do homebanking e as compras online, vemos uma grande evolução. Há uns anos, e não assim tantos, Portugal tinha apenas, enfim, na compra online e na utilização bancária, essencialmente 30% da população. Hoje em dia estamos acima dos 60%. Portanto, ou seja, quando nós temos mais de 60% dos portugueses a comprar online, mais de 65% na verdade a fazer utilização do homebanking, vemos que essa sofisticação está a acontecer. Isso coloca, obviamente, uma pressão positiva, vou-lhe chamar assim, sobre as empresas, que têm cada vez mais que prestar serviços de qualidade e disponibilizar esses serviços aos consumidores. Essa pressão também está sobre os serviços públicos digitais. E, na verdade, Portugal sempre esteve relativamente bem no ranking europeu na disponibilização de infraestrutura tecnológica.

E a tecnologia tem evoluído substancialmente. Este é o caso da inteligência artificial generativa. A minha pergunta é como é que isso está a transformar o comércio eletrónico e as interações digitais entre as empresas e os seus clientes?

Nós, claramente, vemos vagas sucessivas desde, obviamente, o aparecimento da internet, a utilização dos motores de busca, depois a existência das redes sociais, mais tarde os smartphones e, portanto, tudo o que é mobile. A grande revolução que nós estamos a assistir agora é a introdução da inteligência artificial generativa, mais até, eu diria, nesta fase, naquilo que nós conseguimos pôr nas mãos das pessoas, ou seja, o que é que cada um de nós, enquanto profissional, consegue tirar partido. Como é que nós conseguimos aumentar, dramaticamente, quando penso naquilo que eu consigo atingir. Essa produtividade pode também estar ao alcance do país. O país, como um todo, tem muito a ganhar se os seus profissionais aprenderem a utilizar a inteligência artificial. Há depois uma outra dinâmica, que é um bocadinho diferente, que é a introdução da inteligência artificial nos processos dos negócios. O que nós estamos a assistir é a alteração profunda da forma como as empresas disponibilizam os seus serviços ao conseguirem aumentar a produtividade e a rapidez. Quando nós pensamos, por exemplo, em áreas como a saúde, nós vemos, por exemplo, a inteligência artificial a aumentar e a melhorar significativamente a qualidade do diagnóstico, por exemplo, nas TACs, nos eletrocardiogramas. No comércio eletrónico, obviamente, há uma área óbvia que tem a ver com o atendimento e a automatização de atendimentos. Isso é uma coisa que nós já vemos muito hoje com chatbots e outras coisas. Mas também vemos a inteligência artificial cada vez mais nos processos de criação de conteúdos, por exemplo, para a apresentação de produtos. Todos os processos das empresas, seja na sua relação com os seus fornecedores, com os seus clientes e até com os seus colaboradores, estão a ser alterados pela inteligência artificial. 

Portanto, eu diria que há duas dinâmicas. Há a dinâmica de todos nós, enquanto pessoas que trabalhamos, que compramos, que vamos ao banco e que temos que responder a e-mails, etc., que estamos a automatizar e a melhorar, se quiser, através destas ferramentas de inteligência artificial generativa. E depois um outro tipo de inteligência artificial mais ligado aos processos das empresas e que atua no background. São invisíveis aos consumidores, mas estão lá por trás para que as empresas sejam mais eficientes.

Essas são muitas das oportunidades. E os riscos que a inteligência artificial generativa traz para as empresas no contexto da economia digital?

Eu faço parte do board da Associação Europeia de E-Commerce e também sou chairman de uma entidade que trabalha com a Comissão Europeia na área do e-logistics e no e-taxation e falámos muito sobre estes temas da inteligência artificial. O que é importante percebermos é que temos de ter a certeza que estas ferramentas são utilizadas num contexto de legalidade. Qualquer tipo de utilização que possa ser fraudulenta é um crime. Não deve ser introduzido aqui um conceito de que a inteligência artificial é um promotor de crime. Não, é. Estarmos online, seja numa rede social ou uma empresa a ter uma presença online, é um risco acrescido. Quer queiramos, quer não, o digital está a aumentar os riscos das fraudes. Mas isso é uma inevitabilidade. O crime sempre existiu, sempre existirá e será sempre tão sofisticado quanto as ferramentas digitais. Vale a pena nós separarmos os grandes benefícios que a inteligência artificial tem na produtividade, na saúde, mesmo na educação e em tantas outras áreas, e separar essa componente que a inteligência artificial traz para cima da mesa e que é uma grande vantagem, versus depois outros aspetos que são potenciadores de crime.

Por isso, não podemos dissociar da transformação digital da cibersegurança…

E já agora da ciberresiliência, porque esse é um outro tema que se fala pouco. Mas a ciberresiliência hoje é muito importante. Eu faço conferências e dou aulas e hoje em dia, por exemplo, é uma coisa perfeitamente natural que sejam feitas remotamente. Antes da pandemia não era normal as instituições disponibilizarem meios remotos de formação. Não era tradicional as pessoas irem ao médico através da internet. Essas coisas todas vulgarizaram-se e ainda bem que é que assim é. O que é que isto também quer dizer? Essa vulgarização e essa expectativa que as pessoas têm de ter um always-on obriga a que as infraestruturas das organizações também sejam muito resilientes. E o que é que é isto das organizações? Se eu estou na minha casa a participar numa conferência online, quem tem que assegurar que a internet vai funcionar sempre enquanto eu estou a falar? Não é o organizador da conferência, sou eu na minha casa. Existem hoje desafios muito interessantes relacionados com a resiliência. Não é tanto com a cibersegurança, ainda que nós saibamos, por exemplo, que alguns dos ataques mais conhecidos nos últimos tempos até foram entradas pela casa de empregados de empresas onde não havia ali os mecanismos de segurança, talvez necessários. Mas eu diria aqui que é o tema da cibersegurança e da ciberresiliência. Ou seja, como é que as infraestruturas não vão abaixo, estão sempre disponíveis, porque nós precisamos delas.

E porque as pessoas também estão no centro desta transformação, qual é o impacto da automação e da economia digital no mercado de trabalho e nas competências exigidas às novas gerações?

Eu separaria aqui em dois aspetos. Um tem a ver com quem está hoje já no mercado de trabalho e tem, se calhar mais de 30 anos. É um desafio de reciclar e de reskilling, se quiser, e que é cada vez mais necessário. Ou seja, hoje as empresas o que se queixam no essencial é que não têm uma força de trabalho adequada aos desafios que estão a agendar. Há aí um esforço que tem que ser, se quiser, uma boa articulação entre o Estado, as associações – e a ACEPI, por exemplo, vai lançar agora em breve a ACEPI Academy que se vai focar em áreas que nós achamos que são muito importantes para a digitalização e formarmos também executivos e trabalhadores das empresas nestas áreas. Mas o que sentimos que deve ser também um grande foco tem a ver com os mais jovens. Ou seja, como é que nós explicamos a um jovem que, independentemente de querer ser médico, advogado, engenheiro, sociólogo, seja lá qual é a profissão que quer ter – obviamente que depois há um conjunto de outras profissões que são na área específica do digital –, mas hoje, por exemplo, ser médico pode querer dizer saber operar um robô numa cidade, estar a operar em Boston um doente que está aqui em Lisboa. E, portanto, essa skill tem que também passar para as profissões mais tradicionais. Os jovens têm que entender verdadeiramente, independentemente da profissão que venham a querer escolher, o que é que é isto da inteligência artificial, da realidade aumentada, da interoperabilidade. Ou seja, esse conhecimento que precisam ter de tecnologia tem que ser amplificado para lhes abrir os horizontes sobre também o que é que querem fazer no fundo da sua vida.

Isso é muito mais do que literacia digital.

Bom, eu diria que a literacia inclui o saber utilizar e entender as tecnologias. Quando olhamos para os mais jovens, eu diria que isto se divide, essencialmente, em três grandes coisas. Por um lado, entenderem as tecnologias e para o que é que elas servem e em que contexto. Há um segundo eixo, que eu diria que é mais social, político e económico. Se quiser, hoje fala-se muito do ESG. É quase um ESG para os jovens, entender o que é que é quando se está a falar de sustentabilidade, é muito mais do que só o ambiente. E hoje em dia, cada vez mais se fala em digitalização sustentável. E há aqui uma terceira dinâmica, que tem a ver com os momentos de vida. Os jovens muitas vezes chegam à sociedade despreparados para coisas, como o que é isto da app da segurança social? Como é que eu registo nas Finanças? Como é que eu abro uma empresa? E, portanto, se quiser, eu diria que há aqui estas três dinâmicas, que é aprender o que é a tecnologia, aprender o que é que são as grandes dinâmicas do mundo e depois perceber o que é que depois é o meu dia-a-dia. E isso deveria ser hoje em dia ensinado aos mais jovens tão cedo quanto possível.

Quais são os principais desafios que as empresas portuguesas enfrentam para adotarem uma estratégia de digitalização eficaz?

Bom, desde logo, o primeiro que falámos agora é as competências digitais dos colaboradores e, no caso das microempresas, como sabem, são mais de 95% do nosso tecido empresarial, o desafio é mesmo os gestores, ou seja, muitas vezes é o próprio gestor que não tem as competências digitais e muitas vezes não tem um business plan para a transformação digital. Ou seja, esse é um primeiro passo, que é a transformação digital dos gestores das pequenas e médias empresas. Depois há aqui a transformação e as competências que também já falámos agora. Hoje em dia, vamos ser objetivos, a tecnologia e o acesso à tecnologia é a parte mais fácil desta conversa, porque a tecnologia é muito mais barata do que era há 10 anos, é muito mais rápida de implementar e há muito mais ferramentas. Hoje há oferta e o preço a que essa oferta é disponibilizada é muito maior e, portanto, eu não colocaria o peso muito nessa componente, diria que claramente é o tema das competências e uma evolução natural, o acompanhar da tecnologia é um grande desafio. Agora, isto não pode também estar desarticulado de uma estratégia do próprio país. Ou seja, por um lado, nós temos que ter aqui a certeza que temos um país que tem a capacidade de oferecer uma boa infraestrutura tecnológica, que tem serviços públicos digitais, tanto para os cidadãos como para as empresas. Vale a pena agora aqui dizer que muitos dos serviços digitais que são disponibilizados pelo Estado são também, através de interoperabilidade, disponibilizados às empresas e às entidades privadas. Portanto, essa articulação também é fundamental existir. Aqui o que me parece é que, por um lado, o Estado tem que ter uma estratégia para ser uma nação inteligente, ou seja, temos que pensar. Falou-se muito durante muitos anos no conceito de smart cities, ou cidades inteligentes, hoje em dia vemos muitas vezes falar-se num tema que é o território inteligente. Portanto, alargar isto a um conceito de território e, claramente, também precisamos ter aqui uma estratégia para as nações inteligentes. Portanto, termos a certeza que o país está alinhado, seja na infraestrutura, seja nos layers de aplicações e tecnologia, e seja depois o que é no topo disto tudo: as pessoas.

E o Estado está comprometido com isso?

Temos visto alguns sinais agora mais recentes, não só de governos anteriores, mas até mesmo deste governo, com a estratégia dos territórios inteligentes, uma estratégia para o digital. Obviamente também, a verdade seja dita, isto é um caminho que não se faz num só dia. Mas eu gostaria sobretudo de destacar que isto faz-se em conjunto, ou seja, é as empresas em conjunto a trabalharem, e aqui temos que ser cooperantes, mesmo as empresas que são concorrentes devem trabalhar para um melhor país do ponto de vista das infraestruturas, do serviço, etc., garantirmos que isto é bem articulado com o Estado, e depois com os cidadãos, no final. Não deixamos ninguém para trás. Esta ideia de que, independentemente de, se estamos a falar de uma pessoa com 70 ou 80 anos, que está agora a dar os primeiros passos no digital, seja um jovem que está agora a entrar na escola e que tem que percorrer aqui um caminho, seja um trabalhador numa situação em que não tenha as competências para o futuro, como é que o Estado e as empresas devem cooperar em iniciativas para que ninguém fique para trás? Isto, no fundo, é o grande objetivo de uma nação inteligente.

E qual é que tem sido o papel da ACEPI a ajudar as empresas nacionais a competirem até a nível europeu e global

A ACEPI existe desde 2000. Nestes 24 anos desenvolveu variadíssimas iniciativas. Desde logo, destacaria aqui uma que tem muito a ver com o conhecimento sobre o mercado português, que era algo que não acontecia até uma determinada altura. Começámos a publicar, desde 2009, um relatório a quem chamamos tudo da economia e da sociedade digital em Portugal, e que hoje existe num formato bastante fácil de utilizar em digitalemportugal.pt. É um site gratuito onde qualquer informação sobre o mercado português está lá disponível. Depois, também, desde há vários anos que organizamos a Portugal Digital Week, que é uma semana inteira de iniciativas, onde eu destacaria aqui o Portugal Digital Summit – este ano o evento conta com mais de 150 oradores, três palcos e o tema é, lá está, inteligência artificial nos negócios. E é um evento que, ao contrário de muitas iniciativas que existem no nosso país, nós queremos disponibilizar gratuitamente aos profissionais. Mais uma vez é uma oportunidade que a ACEPI dá aos gestores e aos profissionais de aprenderem tudo o que é e partilharem o mais importante do digital em Portugal. Reconhecemos o que de melhor se faz no nosso país, como os Prémios Navegantes. Ao longo dos anos fizemos variadíssimas iniciativas para ajudar as PMEs. Estou-me a lembrar do programa PME Digital, lançado em 2013. Depois, durante a pandemia, fizemos o projeto Comércio Digital, em que ajudávamos as pequenas e médias empresas a dar os primeiros saltos nesta dinâmica digital. Vamos agora lançar uma nova iniciativa chamada ACEPI Academy, na área da formação. Estamos num outro projeto chamado Acelerar o Norte, que é especificamente para apoiar cerca de 10 mil empresas, na área do comércio tradicional, a dar os primeiros saltos neste tema digital. Organizamos todos os anos, para promover o e-commerce português, o dia das compras na net, normalmente um mês antes do Back Friday, e só focado no digital português. E depois fazemos uma série de coisas muito invisíveis que têm a ver com, articularmos com a Comissão Europeia, articularmos com o governo português na transposição de determinado tipo de legislação, diretivas.

Olhando para a edição deste ano do Portugal Digital Summit, que se realiza em Lisboa a 23 e 24 de outubro, quais é que são as grandes tendências que são destacadas nesta edição e que olham para o futuro?

Nós dividimos o evento em três grandes linhas de partilha de conhecimento. Por um lado, naquilo que chamamos de Leadership Stage, são gestores de entidades públicas e privadas, dos mais variados setores, a explicar como é que estão a fazer a transformação digital das suas organizações. Temos depois um outro palco mais focado na tecnologia, que é o Disruption Stage, para perceber tudo o que há de tecnologia e de novidades. E aí eu diria, claramente, a internet das coisas, o data, a interoperabilidade, 5G, inteligência artificial, a realidade aumentada, estes são os grandes tópicos que estão em cima da mesa. E depois temos um outro palco chamado Master Stage, mais focado, se quiser, na parte mais operacional destas disciplinas: o marketing digital, a produção de conteúdos, o e-commerce, os pagamentos, a logística. Portanto, quem quer aprender com os fazedores, vai ao Master Stage aprender a fazer. Essa é a dinâmica deste evento, que tem a este ano a particularidade de ter Espanha como país convidado e tentámos, tanto quanto possível, ter o maior número de representantes deste, se quiser, canal que nós temos hoje cada vez mais privilegiado entre Portugal e Espanha. E criar condições para que as empresas e os empresários e os gestores entendam como é que podem melhorar esta relação.

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