A ameaça global das alterações climáticas na saúde, a saúde ambiental e humana é real e deve ser tratada como um sistema integrado.
Existem muitas questões ambientais com potencial para impactar significativamente a saúde humana, que podem ser resumidas na chamada "crise planetária tripla": I) poluição, II) alterações climáticas e III) perda de biodiversidade.
Globalmente, a poluição por si só é responsável por 9 milhões de mortes/ano prematuras, ou seja, três vezes mais mortes do que por SIDA, tuberculose e malária juntas. Por outro lado, 92% do total de todas as mortes relacionadas com a poluição ocorrem em países de baixo e médio rendimento, exacerbando as desigualdades em saúde. E essa é uma tendência que tende a aumentar, pois as mortes causadas por fatores de risco da poluição moderna aumentaram 7% desde 2015 e mais de 66% desde 2000.
Ao longo do tempo foi estudado e analisado o impacto do meio ambiente na saúde global e individual e chegou-se à conclusão de que o mesmo pode afetar positiva ou negativamente a saúde física ou mental de cada um.
A verdade é que foi demonstrado que o aquecimento global e as mudanças nas condições climáticas colocam o metabolismo humano e o sistema imunológico sob stresse, o que por vezes se traduz em condições inflamatórias que mais tarde irão aumentar a mortalidade a nível mundial. Adicionalmente, a poluição atmosférica pode exacerbar essas condições inflamatórias crónicas, como a dermatite atópica e a asma, e ser responsável pelo aumento das taxas de cancro de pulmão.
Desta forma, e tendo a indústria farmacêutica como missão a investigação e desenvolvimento de produtos e terapêuticas que influenciem de forma positiva a vida das pessoas, as companhias têm vindo a adotar medidas que procuram direcionar a sua investigação para estas áreas ao mesmo tempo que procuram reduzir a sua pegada ecológica.
A par da investigação, a implementação de práticas sustentáveis por parte da indústria tem como foco não apenas reduzir o consumo de recursos naturais, como também promover a eficiência energética, o uso de energias renováveis, a diminuição do uso de plástico nas embalagens e o eco design, incluindo redimensionamento de embalagens para ocuparem menor espaço e diminuírem o impacto no transporte assim como a neutralidade carbónica.
Para esta implementação tem sido necessário concertar esforços e estabelecer planos de ação transversais e de colaboração entre a indústria, fornecedores, entidades regulamentares e outras instituições que possam assegurar o cumprimento de todos os padrões de qualidade e segurança ambiental.
E, não menos importante, é também preciso sensibilizar e educar a população para a manutenção e preservação do meio ambiente. Em Portugal temos o exemplo das campanhas de consciencialização sobre a recolha e reciclagem de medicamentos que foi implementada há uns anos e serviu o seu propósito: educar e informar a população acerca das formas indicadas de como deitar fora um medicamento e preservar o meio ambiente.
Acredito que ainda existe alguma falta de informação e visibilidade do real valor da indústria farmacêutica, do seu papel na investigação e disponibilização de medicamento e vacinas que salvam vidas, na disponibilização de soluções de autocuidado que previnem a doença e preservam a saúde e das suas politicas de impacto social e ambiental. Contudo, há um facto inegável: estamos na linha da frente na prevenção, tratamento da doença e preservação da saúde.
A ciência e a inovação aliadas à sustentabilidade e responsabilidade ambiental podem potencialmente transformar e salvar a vida a milhões de pessoas em todo o mundo, cabe-nos a nós assumir esse compromisso e contribuir para este equilíbrio.
Helena Freitas, Diretora Geral da Sanofi Portugal