O Preço de Pensar

Publicado a

É incrível como a economia condiciona a nossa vida e muitas das decisões que tomamos. Participei numa conferência que colocou no hall de entrada mesas com snacks, sandes de queijo, bolachas e pastéis de nata. No final do dia havia pacotes de snacks abertos meio comidos ou até intactos, bolachas destruídas e chávenas quase cheias de café abandonadas pela sala. Esta é uma das consequências negativas do grátis. Normalmente, as pessoas não se importam muito com as coisas que não pagam e são encorajadas à gulodice e consumismo. O mesmo se passa quando as pessoas estão dentro dos aviões e pedem toda a comida grátis, por mais intragável que seja. É por isso que cobrar um preço, mesmo um preço baixo, pode encorajar um comportamento mais responsável. Cobrar um preço, qualquer que seja, cria uma barreira mental difícil de ultrapassar. Chama-se a isso custo mental da transação. No fundo, é o preço de pensar.

Do ponto de vista do consumidor existe uma diferença abismal entre o barato e o grátis. Um produto ou serviço oferecido pode disseminar-se como um vírus (o WhatsApp por exemplo), mas basta cobrarmos um cêntimo e já se entra num negócio diferente, em que que se compete contra muitos outros, mais baratos ou mais caros.

O grátis transformou os negócios do século XXI. A Google ganha tanto dinheiro com publicidade, resultados de busca e anúncios, que pode adoptar o grátis no resto do negócio. Na equação do negócio, o grátis é fulcral porque cativa utilizadores e induz a adopção em massa. E o que a concorrência pode fazer? Pagar para os clientes usarem o seu produto? O que os concorrentes podem fazer é, no máximo, igualarem a oferta mas nunca a irão superar.

Mas grátis não é um modelo de negócio, na verdade faz parte do modelo freemium. No final do dia o negócio tem que ser lucrativo (senão não é um negócio!): se há produtos que são oferecidos (tipicamente uma oferta digital como software, media, jogos), alguma quantia em dinheiro é cobrada a utilizadores premium para obterem recursos adicionais, funcionalidades ou bens virtuais. A verdade é que há pessoas que estão dispostas a pagar e outras não. A determinada altura da vida temos mais dinheiro do que tempo e preferimos pagar um preço mais alto pela gasolina só para não termos que dar voltas de carro para encontrar o posto de abastecimento mais barato. Ora, o valor do nosso tempo está na base de inúmeras decisões económicas que tomamos, mesmo que não nos apercebamos disso. E os negócios digitais do século XXI baseiam-se na equação tempo Vs dinheiro e na ideia de custo de oportunidade. Mais uma vez, é a economia a funcionar.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt