Teve custos políticos elevados para o Brasil a votação de duas denúncias da Procuradoria-Geral da República contra o presidente nos últimos meses porque o país parou, já que Michel Temer e os seus auxiliares, quase todos diretamente envolvidos nas acusações de corrupção, organização criminosa e obstrução de justiça, estiveram em regime full-time a tentar barrar as denúncias no Congresso Nacional. E porque o já impopular Temer viu os seus índices de aprovação baixarem para inéditos 3% e a confiança do povo no seu governo cair praticamente a zero.
Teve custos sociais elevados também: para escapar das garras da justiça, o presidente cedeu às exigências dos seus julgadores – os deputados – sem pudor. Clientelizou ainda mais o estado, oferecendo cargos na máquina pública a aliados desses parlamentares que se dispusessem a votar a seu favor, e aceitou legislar em prol de grupos de pressão poderosos – o caso mais extremo foi o da facilitação do trabalho análogo à escravidão para convencer a importante Bancada do Boi a apoiar o presidente.
Mas numa publicação de viés económico, é esse ponto, o dinheiro, que cabe destacar. Quanto custaram ao Brasil as denúncias contra Temer? Mais do que o Bolsa Família: o programa de distribuição de riqueza para famílias carentes criado na gestão do PT foi orçado em 2018 em 26 mil milhões de reais (sete mil milhões de euros); segundo contabilidade do jornal conservador O Estado de S. Paulo, o preço da operação de resgate a Temer foi de 32 mil milhões (8,6 mil milhões de euros) em forma de presentes aos deputados que o salvaram.
Além dos 4,2 mil milhões [1,15 milhões de euro] dados em cash aos seus aliados de circunstância para aplicação nos seus círculos eleitorais, houve acima de tudo amabilidades indiretas: descontos em multas do Ibama, o instituto de preservação ambiental com quem boa parte dos parlamentares e os lóbis que eles representam costumam ter problemas, no valor de 2,7 mil milhões [730 milhões de euros]; a renegociação de dívidas empresariais ao fisco, outro ponto caro aos deputados-gestores, custou aos cofres públicos 6,4 mil milhões [1,7 mil milhões de euros]; o governo foi também sensível às queixas do legislativo em relação à privatização de aeroportos, deixando por isso de ganhar 6 mil milhões [1,6 mil milhões de euros]; e os grandes latifundiários, por via de um programa de parcelamento de dívidas laborais, tiveram direito a um perdão de 17 mil milhões [4,6 mil milhões de euros].
As denúncias da Procuradoria-Geral da República contra Temer, na sequência da delação de empresários, de áudios em que o presidente pede a corruptos para pagarem mensalidades a presidiários em troca do seu silêncio e de vídeos em que assessores especiais de Temer recebem malas cheias de dinheiro, tiveram, pois, elevado custo financeiro para o Brasil. E custo social. E custo político.
Mas o maior custo foi o jurídico: o Brasil pagou para continuar a ter no Planalto um governo em quem não confia.