É uma das coisas certas em Las Vegas, tal como a "Living on a Prayer" dos Bon Jovi na Fremont Street todas as noites, as fontes dançantes do Bellagio e os cartões com meninas semi-nuas que são distribuídos pela Strip. Quando comecei a ir a conferências em Las Vegas, não percebia bem o porquê da escolha do local. Uma pessoa não consegue andar dez metros sem ser perseguida pelo Super Homem Anão, que quer tirar uma foto e recolher um dólar de gorjeta. Há convites para festas a torto e a direito, os casinos e bares fazem barulho até às tantas da manhã e há mais bebidas alcóolicas que água a circular. Quem não vem apostar notas nas slot machines sente-se como quem vai à praia sem fato de banho em Agosto.
Na verdade, a escolha de Las Vegas é genial. Como tudo é gigantesco, espaçoso e espampanante, há acomodação para dezenas de milhares de pessoas a qualquer altura do ano. Os hotéis são baratos durante a semana (quando se fazem as conferências e feiras) e há ligação entre eles - uma pessoa começa no Mandalay Bay e, se quiser, só pára na outra ponta da Strip, sempre a andar por dentro.
Depois, há o factor descompressão: atira-se com dez horas de eventos num hotel e compensa-se logo com mega jantarada e bebidas no Marquee. Marcam-se cinco reuniões seguidas, e enfiam-se convites para a Britney Spears no Planet Hollywood por baixo da porta do quarto.
O que acontece quando os "geeks" invadem Las Vegas é nada. Zero. Nicles. Com sorte, as senhoras de meia idade que estão a jogar no casino há 8 horas seguidas gozam com as mochilas dos computadores, e pouco mais do que isso. Não há olhares de lado nem perguntas curiosas. Las Vegas é um caldeirão tão grande de pessoas de todo o lado que 160 mil "geeks" a verem robôs, drones e patins com turbo não aquece nem arrefece ninguém por aqui.
O que aquece são os pés, e as bolhas que começam a formar-se ao terceiro dia. Há 185 mil metros quadrados de exposição e todos os hotéis são gigantescos. Além disso, e por algum motivo de insanidade temporária, há conferências em múltiplos hotéis entre os quais não se pode ir a pé.
Os eventos começam logo às 8 da manhã, mas é preciso estar na fila uma hora antes para garantir lugar dentro da sala. Também estão marcados uns a seguir aos outros, o que torna as idas à casa-de-banho e a alimentação regular em actividades ocasionais e não garantidas. Há sempre um asiático a dormitar em cadeiras, sofás ou encostado à parede (sempre; são 17 horas de diferença). E ao fim de alguns dias a dormir poucas horas e a percorrer quilómetros, já é difícil ver a diferença entre os patins com turbo, os skates andantes e as mini-Segway que desfilam nos corredores.
Mas é aqui que se vêem os projectos mais loucos, as startups mais arrojadas e as concretizações megalómanas das gigantes da indústria (a Samsung fez uma preview das suas novas televisões com jovens asiáticas cobertas de luzes azuis a flutuarem numa piscina). É aqui que se fala com a startup francesa que fez garfos com Bluetooth para emagrecer e se vêem os novos fogões topo de gama com computador de bordo. Dos 20 mil novos produtos apresentados nesta feira, apenas 200 vão ter sucesso e entrar-nos pelas casas adentro. O que acontece em Las Vegas pode ficar mesmo só por Las Vegas. Mas é uma aventura dos diabos.