O que é que os portugueses querem?

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No passado domingo assistimos a uma vitória esmagadora e mais que justa do nosso Presidente. Contudo, a verdade é que o Presidente da República e Chefe Supremo das Forças Armadas de Portugal foi eleito por 23,4% dos portugueses inscritos. Isto é, 1/5 da população nacional. Ou seja, mais de 6,5 milhões abstiveram-se do dever e do direito de votar e, por isso, de participar na vida política nacional. Claro que todos os entraves criados e o medo da pandemia não ajudaram.

Apesar de todas as circunstâncias, fará sentido termos eleições vinculativas onde só cerca de 30% dos portugueses (inscritos) participam? Fará sentido vivermos num país onde mais de 60% da população não quer saber nem quer participar nas decisões e na escolha dos nossos líderes? Penso que não.

O que não faz mesmo sentido é esta situação não preocupar os agentes políticos e assistirmos a um arraial de desculpas, de discursos de vitória de derrotados mas pior, de discursos de vitória de pessoas e de partidos que nada tiveram que ver com a própria eleição. Isso é que não faz sentido nenhum. Parece que não perceberam o que, a meu ver, os portugueses querem.

Parece-me que os portugueses querem o atual Presidente. E também me parece que não querem nem estão satisfeitos com as soluções e a classe política vigente. Pois, se assim fosse, teriam votado em massa (como infelizmente não fizeram) e teriam legitimado as alternativas (o que também não fizeram).

Então, afinal, o que querem os portugueses? Não posso responder com exatidão mas posso, aliás, quero partilhar o que, na minha opinião, os portugueses, como eu, parecem querer.

Parece-me que querem, antes de mais, uma (1) Renovação. Uma renovação e reconstrução deste Estado "vazio" em que nos tornámos. Uma renovação das soluções, dos agentes políticos e da forma como se serve o Estado. E, por isso, querem uma (2) Visão para o país. A Estratégia Nacional de que sempre precisámos mas que nunca projetámos por receio de limitar a atuação diária dos interesses e das decisões interessadas. A tal estratégia também crucial numa época absolutamente extraordinária da nossa vida em pandemia como temos vivido.

Parece-me também que os portugueses querem (3) Transparência na atuação política mas em especial no uso dos fundos públicos (particularmente, da "bazuca" futura); que querem e precisam de (4) Estabilidade, fiscal como jurídica, pois não podem continuar a viver num Estado de Direito sem que nenhum de nós saiba com que leis se rege ou até quantas e quais as leis vigentes! E não querem nem podem continuar a pagar a brutalidade de impostos que pagam, nem aceitam que anualmente, em cada orçamento do Estado, se alterem - sempre para mais - todas as regras e o preço da vida em sociedade. Ou seja, querem que se projetem regras e impostos a dez anos, pelo menos. Sem medos, para podermos atingir a (5) Competitividade necessária. E não basta o preço (a taxa de imposto). É preciso valor. E o valor também está na estabilidade. Talvez sejam estes os ingredientes criativos para podermos atrair o investimento estrangeiro de que precisamos.

Por outro lado, os portugueses também querem (6) Trabalho. Que é completamente diferente de "emprego". Aliás, parece-me, até, que querem que os deixem trabalhar. Com meritocracia. Sem entraves, sem bloqueios e muito menos preferências e/ou privilégios indevidos e injustificados. Os portugueses querem poder empregar (isso sim!) todos os esforços, meios e capacidades na construção de uma vida melhor e, por isso, de um país melhor.

Mas mais. Os portugueses querem ter a capacidade de poder construir e constituir uma (7) Família com mínimos de dignidade e terem a capacidade de (8) Cuidar dos seus, em especial, dos mais velhos, sempre com a preocupação da viabilidade e preservação do (9) Estado Social crucial para assegurar e garantir bem-estar e apoio de todos para todos os que precisam.

Parece-me também que os portugueses querem e almejam um (10) Estado Eficiente através de uma reforma administrativa, onde possa com menos pessoas e custos gerar mais valor a todos. Mas também que consiga gerir melhor os ativos que detém, através do Balanço do Estado e de melhores negociações nas quais não perca valor, como sistematicamente o Estado tem perdido com vendas urgentes - incluindo ativos não pagos pelos compradores (como aconteceu com algumas infraestruturas de várias empresas já vendidas e não contempladas no preço).

Parece-me ainda que os portugueses querem um (11) Estado Regulador que garanta o bom funcionamento das instituições, em especial da Justiça, que tem de ser célere e clara, mas também da economia, apostando no bem comum, ao invés de limitar ou até ser concorrente direto da iniciativa privada.

Finalmente, parece-me que os portugueses também querem um (12) Estado Sério. Que não minta ou tente enganar. Que garanta sempre uma atuação em prol do cidadão e do bem comum. Que garanta a boa atuação dos seus organismos e instituições, como infelizmente não tem acontecido ultimamente com os vários apoios anunciados mas depois inexistentes e/ou as falhas e as confusões da segurança social no pagamento de pensões e subsídios cruciais à vida de tantos. No fundo, um Estado que confie e que pague a tempo e horas, em vez de dever e mesmo assim cobrar sempre de forma cega e desumana.

Sinceramente, parece-me que é isto que os portugueses querem.

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