E pronto, foi cumprido o ato eleitoral e Portugal pode voltar a concentrar-se na sua tarefa prioritária: a recuperação económica e social pós-pandemia. De resto, uma das questões que mais preocupavam o país, a instabilidade política, está afastada. Contra as previsões da generalidade dos portugueses, os resultados eleitorais bastaram para encontrar uma solução governativa estável.
Mas a maioria parlamentar não deve significar a recusa de compromissos duradouros com outros partidos, sobretudo quando estão em causa questão estruturais como a execução dos fundos europeus, a modernização do Estado ou a transição energética. De igual forma, o governo deve intensificar o diálogo com os parceiros sociais para que o país recupere do seu atraso na qualificação profissional, na competitividade das empresas e na dignificação do emprego, por exemplo.
A promessa de diálogo feita por António Costa na noite eleitoral deve ser cumprida, assim como a intenção de formar um governo mais pequeno, mais ágil, mais focado na recuperação económica e social do país. O novo executivo tem todas as condições políticas para ser eficiente e proativo, para além de beneficiar do maior envelope financeiro de sempre vindo de Bruxelas. Mesmo numa conjuntura de grande incerteza, não há justificação para não fazer o país convergir com os seus parceiros europeus.
Isto significa atingirmos níveis de crescimento económico acima da média europeia, a partir de um modelo de desenvolvimento baseado não na procura, mas sim na oferta. Ou seja, devemos crescer por via do emprego, do investimento e das exportações, e não tanto pelo aumento do consumo interno. Neste sentido, importa manter o que está bem, como a lei laboral, e facilitar a atividade e os investimentos das empresas, reduzindo a burocracia, os custos de contexto, a complexidade fiscal, os atrasos na atribuição de incentivos...
Era bom, no fundo, que o novo governo conseguisse compatibilizar competitividade, sustentabilidade e coesão social. Ora, isto exige melhores condições para que as empresas façam a transição digital e verde, criem empregos e valorizem os salários, invistam em inovação e exportem mais e com maior valor acrescentado.
Não é pouco, mas parece-me possível com políticas mais amigas da iniciativa privada, no seguimento das promessas eleitorais de desagravamento diferenciado do IRC ou de incentivos à capitalização das empresas.
Presidente da ANJE - Associação Nacional de Jovens Empresários