Com a inflação a pressionar as famílias portuguesas, que viram os preços dos bens essenciais a disparar, desde o supermercado à luz, gás, telecomunicações, e com a subida das taxas Euribor a fazer aumentar bastante as prestações do crédito à habitação, muitas pessoas procuram agora estratégias para fazer face a esta subida do custo de vida tão acentuada. E um aumento salarial está muitas vezes na linha da frente dos desejos.
A especialista em recursos humanos e trabalho temporário Adecco Portugal destaca que perante uma "situação técnica de pleno emprego caracterizada por uma acentuada assimetria entre oferta e procura de talento, é natural que as expetativas salariais dos profissionais aumentem". Daí que "o momento não poderia ser melhor para negociar um aumento de salário".
"Antes de abordar o assunto de um aumento com o líder de equipa, saiba o que quer", começa por aconselhar a Adecco. "Se quer mais dinheiro, decida quanto quer. Se quiser um novo título, tenha em mente o que pode ser mais adequado para a sua carreira. Se quiser maior flexibilidade, decida qual a proposta viável que seja compatível com o segmento de negócio em que se insere, que não prejudique nem a produtividade nem o seu work | life balance".
O importante é utilizar dados relevantes numa negociação salarial. "Não solicite um aumento de 5% ou 10% com base num sentimento instintivo de que isso é o quanto merece." Para ajudar na negociação, a Adecco Portugal apresenta cinco dicas para o fazer com assertividade.
Comece por perguntar aos seus ex-colegas de formação ou a colegas com quem tenha estado ultimamente em eventos profissionais, ou mesmo através das redes sociais, de grupos do mesmo setor profissional, qual o salário médio para profissionais com as suas funções.
Mas tenha em atenção que Uma coisa é falar de salários líquidos e outra são ilíquidos. Um salário bruto está sujeito a descontos, nomeadamente Segurança Social e IRS, que variam de escalão em função do valor acordado, pelo que o salário líquido que recebe será sempre correspondente ao valor após dedução dos impostos em vigor. Para pesquisar o valor líquido do seu salário ideal, pode usar o simulador de vencimento da Adecco Portugal.
Siga a regra dos 80-100%. O que significa? Por exemplo, o salário médio anual mais justo para o seu título de emprego, nível de experiência e localização situa-se entre os 20 e os 30 mil euros brutos/ano. Poderá então apontar para o topo (80-100%) dessa faixa. Neste caso, significaria que alcançar entre 24 a 30 mil euros preencheria as expetativas de aumento salarial.
Neste caso, a parte inferior do seu intervalo de objetivo é o aumento mínimo de salário que aceitaria - ou seja, 24 mil euros no exemplo dado. Se após múltiplas tentativas de negociação, o resultado ainda for o fundo do intervalo de variação solicitado, sentir-se-á feliz? É uma decisão pessoal que tem que ser colocada em perspetiva tendo em conta os seus objetivos e se, dentro da negociação a proposta final pode ser complementada com outros benefícios que lhe tragam valor.
Como já conhece o seu intervalo de objetivo, é chegada a altura de decidir sobre o valor exato que vai utilizar para fazer o pedido de aumento salarial inicial e abrir a porta às negociações.
Mais uma vez, é uma boa ideia começar pelo valor mais alto. Porquê? Deve assumir que as suas lideranças lhe vão contrapropor uma proposta de valor inferior. E se assim acontecer, é o momento em que terá de decidir se vai aceitar, ou não, a contraoferta de volta.
Dica de negociação: números precisos (em oposição aos números redondos) poderão dar-lhe uma vantagem nas negociações. Significa que fez uma pesquisa detalhada e atenta antes da negociação. Assim, em vez de pedir 30 mil euros/ano, poderá propor 30.350 euros/ano. Vale a pena tentar.
Embora a assimetria entre procura e oferta no mercado de trabalho possa funcionar a seu favor como candidato a um aumento, não é sensato depender inteiramente da conjuntura de mercado.
Uma parte essencial do pedido de aumento é demonstrar (usar métricas e/ou exemplos claros) o valor que trouxe para a sua empresa no tempo em que lá trabalhou. Idealizou uma solução interna que evitou à empresa ter que recorrer a um fornecedor externo? Quanto poupou à empresa? Será que um projeto seu recente aumentou as receitas, criou novas eficiências ou gerou pistas? Realce os frutos do seu trabalho com números concretos para quantificar o que traz para a mesa. Tal não é possível em todos os casos, mas há sempre formas de medir o impacto que determinadas iniciativas têm numa organização.
"O não já está garantido", é o que diz a voz popular. E é mesmo isso o pior que pode acontecer perante um pedido fundamentado de aumento salarial: um não como resposta. Claro que este não é o cenário ideal, mas no mínimo, se acontecer, a sua chefia vai ficar a saber que não está satisfeito com o seu salário.
A empresa pode até nem ter reunidas as condições para lhe dar um aumento nesse mês, mas provavelmente ficará no primeiro lugar da fila dos aumentos quando houver possibilidades para tal ou oferecer outro tipo de incentivos que demonstrem que reconhecem o seu valor.
Acima de tudo, tenha confiança no seu valor e permaneça profissional. Se lhe aparecerem ofertas muito baixas, não tenha nunca receio de propor uma contraoferta que lhe pareça justa e em linha com as possibilidades da empresa: é isto que define uma negociação.
Ao mesmo tempo, tente não se tornar tão inflexível sobre o seu aumento salarial alvo que não consiga apreciar uma oferta altamente competitiva se a receber. Em última análise, só você pode decidir quando aceitar e quando recuar.