Nas últimas semanas, tornaram-se subitamente mais evidentes os problemas que estão a afetar o Facebook e a Meta, empresa-mãe que também detém Instagram e Whatsapp. Fundado em 2004, o Facebook mudou o nome para Meta em 2022, quando Mark Zuckerberg decidiu apostar forte no desenvolvimento de produtos e serviços no universo metaverse..E o que é o metaverse? A palavra apareceu pela primeira vez na novela Snow Crash, de Neal Stephenson, publicada em 1992, e o conceito foi retomado por Ernest Cline no livro Ready Player One. Ambos imaginavam um mundo completamente digital, uma dimensão para além da realidade física onde vivemos. Durante a pandemia, com todas as alterações introduzidas pelos confinamentos, o conceito tornou-se mais conhecido e foi-se desenvolvendo. Zuckerberg acredita que o futuro passa por aí e investiu enormes recursos da sua companhia para desenvolver produtos e serviços nesta área..O resultado desses investimentos é ainda reduzido e, em conjunto com uma diminuição das receitas publicitárias do Facebook, aumento da concorrência (nomeadamente do TikTok) e atual conjuntura mundial, a Meta começou a ter problemas financeiros graves. No mês passado, a Meta anunciou uma quebra de 50% nos resultados previstos do trimestre, evidenciando a continuação da diminuição das receitas, em contraste com um aumento de 19% dos custos. Desde o início do ano as ações da Meta tiveram uma queda de 70%..Foi neste contexto que, nesta semana, a Meta anunciou um despedimento de 11 mil pessoas em todo o mundo, cerca de 13% da sua força de trabalho. Mas vale a pena recapitular, citando dados recolhidos pelo New York Times: no final de setembro, a Meta atingiu o maior número de funcionários da sua história: 87 314, mais 28% do que um ano antes..Com enormes receitas de publicidade e uma valorização bolsista que no ano passado chegou a atingir um trilião de dólares, Zuckerberg foi comprando empresas como Instagram e Whatsapp, ao mesmo tempo que concedia aos empregados benefícios consideráveis nas mais diversas áreas. Esses benefícios estão agora a ser revistos e cortados, e a companhia anunciou um congelamento de contratações até março. Mas nas reduções de pessoal praticamente não foram tocadas as equipas de engenharia criadas para o desenvolvimento do metaverse. Nos relatórios trimestrais divulgados no mês passado, a Meta informou que a Reality Labs, a unidade da empresa dedicada ao metaverse, tinha prejuízos da ordem dos 3,6 mil milhões de dólares e previa que essas perdas deviam aumentar ao longo do próximo ano..O tema está a gerar controvérsia na Meta e, segundo o New York Times, Zuckerberg é acusado de investir demasiado em projetos que refletem a sua ambição pessoal, em vez de consolidar e desenvolver o negócio principal, as redes sociais..Mas aí também existem problemas, relacionados com questões de privacidade, confidencialidade dos dados dos utilizadores, liberdade de expressão, respeito por normas básicas de direitos humanos. Os protestos de diversos setores da sociedade e mesmo de entidades reguladoras de diversos países levaram a Meta a criar, em finais de 2020, um Oversight Board, que já integra cerca de quatro dezenas de personalidades independentes, além de uma equipa de apoio, e tem um orçamento anual de 150 milhões de dólares. O Oversight Board inclui desde juristas e advogados até jornalistas e membros de organizações não governamentais na área dos Direitos Humanos e até políticos como Helle Thorning-Schmidt, ex-primeiro-ministro da Dinamarca. O objetivo da estrutura é avaliar como Facebook e Instagram se comportam na relação com os utilizadores destas redes sociais, mas, segundo um artigo da mais recente edição da revista Wired, há um crescente mal-estar dentro do Oversight Board em relação a áreas de Facebook e Instagram que atrasam o fornecimento de informações ou o acesso a ferramentas determinantes para que a função deste organismo possa funcionar de forma eficiente. Uma das queixas recorrentes é a falta de transparência do Facebook em relação às suas próprias regras. Segundo a Wired, Jamal Greene, professor de Direito da Universidade de Columbia que integra o Oversight Board, sintetiza as coisas assim: "A plataforma não foi concebida a pensar na integridade e sim com o alcance que é possível atingir"..Entre pressões financeiras e dos utilizadores, o Facebook confronta-se, ao fim de quase duas décadas, com a primeira grande crise - que põe em xeque o próprio Zuckerberg. A ver vamos como isto acaba..Manuel Falcão, SF Media