O trabalho no futuro: ficar em casa ou ir ao escritório?

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Este último ano levantou muitas e novas questões, que vale a pena serem discutidas.

Uma das mais pertinentes é a perturbação no trabalho.

Um ano depois de termos começado a confinar, às vezes com medidas mais duras, outras vezes com medidas mais suaves, o teletrabalho impos se como condição para travar o avanço da pandemia. E isso levanta-nos uma questão importante: no futuro, o trabalho será remoto, ou devemos ir ao escritório?

O ano que passou também demonstra que o que realmente importa tem sido a flexibilidade de como e onde trabalhamos: a capacidade de adaptação, resiliência e entrega a uma nova forma de trabalhar. Fomos empurrados para este «novo normal» e, agora, podemos ser empurrados para fora dele se não discutirmos esta questão do trabalho presencial e do teletrabalho.

Vamos dar um passo de cada vez: consideremos os prós e contras do trabalho remoto versus o trabalho presencial, no escritório. Esta questão será a que divide mais a maioria dos trabalhadores que no último ano foram, de repente, confrontados com esta nova realidade.

Temos de admitir que, antes da pandemia, estávamos todos bastante confortáveis nas nossas pequenas vidas, viajando, socializando, estudando e apenas vivendo. Depois do ataque pandémico e, portanto, global, fomos todos empurrados, sem aviso, para fora da nossa zona de conforto, quente e segura, para o que parecia ser uma piscina gelada. Alguns de nós fomos, reagimos de imediato e começamos a nadar; outros, foram aprendendo a nadar; e outros, infelizmente, afogaram-se.

Agora que temos as vacinas, muitos de nós começam a acreditar que vamos voltar ao normal.

Mas o que é isto do «normal»? Muitos de nós gostamos deste «novo normal». Outros querem o «velho normal» de volta, como se nada tivesse acontecido.

Algumas empresas estão a dizer aos funcionários para se prepararem para regressar ao escritório; outras dizem-lhes para continuar a trabalhar remotamente. E há ainda muitas empresas que, sem ter e certeza, sugerem um modelo híbrido, misto, que junta trabalho remoto, mas, também, presencial. Eu próprio, como líder de várias empresas já estabelecidas e com uma nova empresa a arrancar, pensei muito sobre que decisão tomar. A minha conclusão foi seguir o modelo híbrido.

É preciso fazer a pergunta.

Decidi confiar na minha equipa, colegas de trabalho e empregados e ouvi-os sobre como acreditam que têm o melhor desempenho. Tive de eliminar os meus problemas de confiança, as tendências de controlo e as crenças antigas; e tive de aceitar as implicações que vieram com as mudanças do último ano e de como isso transformou o mundo e aqueles com quem trabalho. Também percebi que, sendo mais flexível e de mente aberta, poderei, de facto, beneficiar de um maior conjunto de talentos e atrair aqueles que realmente valorizam o que podemos oferecer. Estou também certo de que, ao dar prioridade às preferências dos nossos colaboradores, promovo maior criatividade, produtividade e melhoro o seu bem-estar geral.

Devíamos ter pessoas mais felizes, saudáveis e emocionalmente mais fortes, que coletivamente nos dão uma empresa melhor e mais dinâmica com aquilo que acredito ser uma cultura única. A vontade de olhar em frente e seguir caminho.

Poderem trabalhar a partir do local onde preferem estar, mas ainda usando o escritório como rede, local de criação e partilha, espaço de criatividade em conjunto e aproveitamento de sinergias, só possíveis quando estamos todos juntos. Poderemos oferecer aos colaboradores maior flexibilidade de horário, para poderem equilibrar melhor o trabalho e as responsabilidades domésticas, algo que muitos procuravam, sem conseguir, no «antigo normal». Acredito também que os empregadores que obrigam os seus empregados a cumprir uma semana de trabalho das «nove às cinco», vão assistir a um êxodo lento, mas seguro, de algumas das pessoas mais talentosas da sua equipa.

Talvez ainda seja muito cedo para fazer a chamada «escolha correta e definitiva», porque temos ainda poucos dados e estamos muito divididos?

Pessoalmente, não me parece. É fundamental ouvir aqueles que produzem e asseguram que o sucesso da nossa empresa nunca é a escolha errada. Um modelo de trabalho híbrido parece fazer a maioria dos colaboradores felizes com a forma como veêm o seu trabalho no futuro.

As novas tecnologias continuarão a apoiar os trabalhadores produtivos, independentemente de optarem por modelos de trabalho a partir de casa, do escritório, ou ambos. Haverá mudanças na forma como vivemos, as nossas casas tornar-se-ão mais amigas do trabalho e até a forma como aprendemos para a vida será feita com o e-learning, misturado com a formação presencial.

Temos de acreditar na nossa escolha híbrida e dar-lhe uma hipótese, confiando nas nossas equipas para atuar. Caso contrário acabaremos por desaparecer como dinossauros, num novo mundo de emprego mais competitivo a nível global.

No final, a produtividade e a criatividade vêm do trabalho que fazemos no nosso cérebro e não apenas do lugar onde estamos sentados. A forma como como colaboramos, inovamos, criamos redes, aprendemos e vivemos mudou. Por isso, no futuro, o local de onde o fazemos, não deve ser escolhido por aqueles que trabalham?

Tim Vieira

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