O último iPhone desenhado por Steve Jobs

Se há coisa que nem Steve Jobs conseguiria prever era o que ia acontecer no mercado depois do seu desaparecimento
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O último iPhone desenhado por Steve Jobs vai ser apresentado a 10 de setembro, uma terça-feira como habitualmente. O que não é habitual, desta vez, é a descrença dos investidores e do mercado. Honestamente, são poucos os que acreditam que o próximo iPhone, 5S ou outra coisa qualquer, seja capaz de nos deixar de boca aberta. O pior é que são capazes de ter razão.

O co-fundador da Apple - faz no final deste mês dois anos que deixou o cargo de CEO, por já estar demasiado doente - passou os últimos meses de vida a desenhar gadgets para o futuro da Apple. O suficiente para assegurar lançamentos por quatro anos, ao que parece, segundo notícias posteriores à sua morte, em outubro de 2011.

Ninguém duvida da sua genialidade. Mas se há coisa que nem Steve Jobs conseguiria prever era o que ia acontecer no mercado depois do seu desaparecimento. Dois anos menos qualquer coisa é muito tempo em tecnologia. A não ser que tenha aparecido em sonhos ao director de design Jony Ive ou ao CEO Tim Cook, duvido que aquilo que Jobs desenhou possa deixar um rasto de queixos caídos até 2015.

Parece que o iPhone 5S, diz que é este o nome, foi um destes últimos gadgets a ser desenhado com o dedo de Jobs. Os rumores, omnipresentes no que toca à Apple, apontam para um ecrã ainda maior que o iPhone 5 (mas não com 5 polegadas como o S4, esqueçam isso) e leitor de impressões digitais no botão 'home'. Além, é claro, da versão remodelada do sistema operativo, a primeira grande alteração desde o lançamento, em 2007. Nada disto é super revolucionário, o que tem dado origem a inúmeros artigos sobre como a Apple está a sofrer pela falta de inovação e vaticínios de que o seu reinado chegou ao fim.

Esta visão das coisas não tem respaldo nos números: no seu terceiro trimestre fiscal, que finda a 29 de Junho, vendeu 31,2 milhões de iPhones, mais 20% que em 2012. Um recorde para este trimestre. O problema da Apple neste momento não é o iPhone, é o iPad, cujas vendas derraparam 14% no mesmo período. Porque é que a pressão está do lado do iPhone e não do iPad?

Porque a Apple perdeu a liderança nos smartphones, mas ainda a mantém nos tablets (situação que decerto vai mudar no próximo ano). A dificuldade nestas comparações é que se pede à Apple o impossível: que se mantenha como líder perante uma Samsung que vende literalmente dezenas de modelos diferentes, cada um para seu segmento de preço e incluindo o sistema operativo móvel mais popular do mundo. Nunca mais vai acontecer. Nem que o próximo iPhone faça torradas.

A única hipótese que a Apple tem de competir com a Samsung, nomeadamente no preço, é lançar a versão low-cost do iPhone, a que se tem chamado 5C. Há pelo menos dois anos que diferentes analistas

publicam notas de pesquisa onde falam deste suposto iPhone mais barato, e isso nunca aconteceu. Diz-se que é agora, porque as circunstâncias mudaram. É verdade, mudaram. Mas se é para lançar um iPhone de plástico, com hardware inferior, não seria mais eficaz baixar de forma significativa o preço dos iPhones anteriores?

A Apple deve olhar para os números do iPad e tirar as suas ilações. Não só vendeu menos unidades, como as margens de lucro recuaram e o preço médio de venda baixou. A este fenómeno chama-se iPad mini. O seu sucesso é inequívoco, mas o efeito nas contas da Apple foi negativo. Canibalizou as vendas do iPad original, mais caro, e posicionou a Apple a jeito da concorrência. Um dado que o demonstra é a evolução das vendas na China: o iPad mini vendeu que nem pãozinhos quentes no trimestre de lançamento, mas caiu a pique no trimestre seguinte. Foi o tempo que as fabricantes chinesas rivais demoraram a fazer clones muito mais baratos.

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