O vinil que temos em casa vale dinheiro?

Sempre que digo a alguém que gosto de discos e que ainda hoje compro singles e LPs, a pergunta acaba muitas vezes por surgir: "então aquele vinil que ainda tenho lá em casa vale muito dinheiro, não? Peço logo que me digam de que discos se trata... Mas depois a resposta, quase sempre, é não.
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O vinil voltou à ordem do dia. E ainda bem. Há mais novos

títulos a chegar às lojas em boas prensagens, há reedições de

qualidade e, entre os vários formatos - e mesmo com valores de

nicho - o vinil voltou (ao contrário do CD) a crescer. Só

este ano, por ocasião do Record Store Day (dia que celebra as

pequenas lojas que vendem vinil) foram criados novos lançamentos de

nomes como David Bowie, Joy Division, Pet Shop Boys, Devo, Sky

Ferreira ou The Art of Noise.

Mas não é desse vinil que me falam. Falam-me dos discos que se

compravam antes dos CDs. Singles que se ouviam noutros tempos, álbuns

em formato LP, alguns até herdados das coleções de pais, tios e

avós... A verdade é que, salvo raras exceções, e mesmo sendo

alguns desses discos peças eventualmente procuradas por

colecionadores, poucos são os que valem "dinheiro". Não estou

a falar de singles ou LPs que, mesmo os menos vulgares, possam

valer uns 5 euros ou um pouco mais. Estou a falar dos que valem

"mesmo" algum dinheiro. E raras, muito raras, são as ocasiões

esses são os discos de vinil de trazer por casa.

Há uns dois anos a revista inglesa Record Collector fez uma lista

dos discos mais caros. E em primeiro lugar ficou uma prensagem não

comercial dos The Quarrymen, a banda da qual nasceriam os Beatles

(com os temas That'll Be The

Day/In Spite of All the Danger). Pelo preço de 24.700

euros este disco em vinil documenta aquela que foi, em 1958, a

primeira visita de Paul McCartney, John

Lennon, George Harrison, John Lowe e Colin Hanlon (Ringo chegaria bem

mais tarde) a um estúdio de gravação. Uma prensagem

limitada a 20 unidades deste mesmo single, depois de um restauro das

fitas, custava então 12.300 euros. Foi o presente de Natal de

McCartney para Ringo e George nesse ano.

Um Top 5 dos mais caros, segundo a Record Collector, inclui ainda

uma primeira prensagem (não comercial) de God Save The Queen dos Sex

Pistols (12.300 euros), um exemplar da edição comercial desse mesmo

single de 1977 que foi quase toda destruída (9.800 euros) e uma das

três cópias existentes do acetato de Anarchy In The UK, também dos

Sex Pistols (8.650 euros). Os Beatles, os Queen e John Lennon (com a

Plastic Ono Band) são outros dos nomes que encontramos entre os mais

caros que figuram na mesma lista, para já dos 5 mais.

Nos EUA, outros discos e outros valores. A mais cara compra de

sempre alcançou os cinco milhões de dólares (segundo a Billboard)

com The Wu -

Once Upon A Time In Shaolin, dos Wu Tang Clan disco do qual foi feita

apenas uma prensagem. O modelo tinha já sido usado, nos anos 80,

pelo francês Jean Michel Jarre em Music For Supermarkets, álbum de

1983 do qual o músico destruiu os moldes após a prensagem de apenas

um exemplar em vinil, que então foi vendido por 69 mil francos. O

disco mudou de dono duas vezes e o que dele se conhece deve-se ao

facto de ter sido apresentado numa emissão da Rádio Luxemburgo (da

qual surgiram depois edições pirata).

Mas nem só

entre a pop e o rock se atingem estes valores. Uma cópia das Suites

para Violoncelo de Bach, por Andre Levy, e com os três discos

assinados, pode valer 14740 euros (números de um leilão de 2007 no

e-Bay).

Entre nós as contas são mais... em conta. O clássico "Mestre",

álbum de 1973 dos Petrus Castrus, é talvez ainda o mais caro de

sempre, com transações entre colecionadores a ir para lá dos 500

euros. Há singles do Ié Ié português a aproximar-se dos 100 euros

(não são muitos, apenas os mais raros) e alguns EPs e LPs dos anos

60 podem valer algumas notas de dez. Espantosamente, e depois de um

percurso no e-Bay, o vinil do álbum dos Joker surgia há dias a 100

euros...

Mas entre os muitos discos em vinil que poderá terá por casa, o

mais certo é que o valor da memória de cada um deles ou dos

momentos a que os associa seja eventualmente mais interessante que

uma mão cheia de (não muitas) moedas.

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