Embora 2019 ainda vá a meio, arrisco desde já a eleger a personalidade do ano: Mario Draghi, o presidente do Banco Central Europeu (BCE) - não sendo a primeira vez que o faço - por tudo o que tem realizado em defesa da Europa e do euro, e consequentemente de Portugal.
O presidente do BCE tem mantido uma postura de atuação absolutamente coerente, dando sucessivos sinais aos agentes económicos da intenção em implementar estímulos adicionais da Política Monetária, sempre que for necessário.
Está bem presente na nossa memória o seu discurso, em julho de 2012, em reação aos problemas gerados pela crise financeira internacional, seguida da crise de dívida soberana, “Within our mandate, the ECB is ready to do whatever it takes to preserve the euro. And believe me, it will be enough”.
E assim fez!
As medidas não convencionais foram fundamentais para diminuir as tensões nos mercados financeiros e evitar riscos extremos, melhorando o funcionamento do mercado monetário e evitando uma redução mais intensa do crédito e da atividade económica.
Nas suas projeções macroeconómicas, divulgadas este mês, o BCE está menos otimista quanto ao crescimento do PIB da Área Euro em 2020 e 2021, cortando em duas décimas e uma décima, respetivamente, em relação às estimativas de março.
Face ao insuficiente crescimento económico e de forma a conduzir a taxa de inflação para o objetivo de estabilidade de preços (em torno dos 2%), mais uma vez Draghi refere estar disposto a usar todos os instrumentos que dispõe, incluindo cortes adicionais nas taxas de juro, já de si em mínimos históricos.
Mario Draghi terminará em breve o seu mandato e desconhece-se, ainda, quem o irá suceder. Mas é importante que o seu sucessor mantenha esta sensibilidade e flexibilidade, contribuindo para um crescimento económico mais robusto da área onde se localizam os nossos principais mercados.
A atribuição na semana passada, pelo Presidente da República, do Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique é um sinal do reconhecimento do importante papel de Mario Draghi e da Política Monetária do BCE no nosso país.
Contudo, esta Política não é condição suficiente, terá de ser conjugada com a adoção, por parte de Portugal, de uma Política Económica mais amiga do crescimento, que foi também uma recente recomendação da Comissão Europeia, como assinalei neste espaço há 15 dias.
Paulo Nunes de Almeida, presidente da Associação Empresarial de Portugal