O acordo assinado ontem, entre a APL - Administração do Porto de Lisboa e a as duas principais fundações portuguesas, a Fundação Gulbenkian e a Fundação Champalimaud, corresponde a mais um importante passo na concretização do Ocean Campus. Com o contrato assinado entre as várias entidades, segue-se a fase de operacionalização - ou construção - que, segundo José Castel-Branco, vogal do Conselho de Administração da APL, deverá estar concluída daqui a dois anos.
Para Isabel Mota, presidente da Fundação Gulbenkian ontem foi "um grande dia para a ciência", porque o novo polo tecnológico vai permitir não só abrir a ciência à sociedade, mas principalmente aumentar a capacidade de investigação das duas entidades envolvidas. No caso específico do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) "a nova visão é de relevância médica".
A par disso o Centro de Investigação irá abordar o impacto das alterações climáticas no ser humano. O projeto focar-se-á, por exemplo, nos fatores que controlam a nossa relação com os micróbios ao longo do tempo - sejam bactérias boas que vivem dentro de nós ou organismos infecciosos, como vírus - usando tecnologia experimental avançada, além de abordagens quantitativas, digitais e teóricas inovadoras. Isto porque, como refere a presidente da instituição, a "manipulação dos micróbios como combate à doença é uma fonte de esperança".
Por outro lado, a criação do Oceanus Campus vai permitir colocar Portugal (ainda) mais na ribalta do mundo científico mundial. Um empreendimento que cumpre a visão partilhada por Isabel Mota: "É preciso aumentar o investimento na ciência". Uma ciência que se quer "mais aberta, colaborativa e multidisciplinar".
E é nesse sentido que entra a colaboração com a Fundação Champalimaud, que com a criação do Oceanus Campus se vê reforçada. A combinação das competências das duas fundações permitirá o desenvolvimento de projetos de investigação em novas áreas como a bioeconomia azul, por exemplo. "Este é o primeiro passo para a criação deste hub que fomenta a ligação entre a ciência e a sociedade", afirma, perentória, Isabel Mota.
Também Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud, subiu ao palco para revelar que o novo centro funcionará como uma expansão das atuais instalações e refere que a localização - vai ficar mesmo ao lado - é uma vantagem e um fator diferenciador aquando da captação de talentos. Com este novo espaço, a Fundação vai poder operacionalizar a investigação de base que tem feito até agora, partindo de tecnologias como a inteligência artificial e o machine learning. Como refere Leonor Beleza, o grande objetivo é encontrar meios de inteligência artificial e de software que possam ser meios terapêuticos nas áreas da medicina mais ligadas a doenças do cérebro. "Este é um projeto que permite alargar, dentro de uma simbiose para nós essencial entre a ciência e a medicina".
Presente no evento, o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, reforçou a importância da criação deste polo de investigação científica, referindo que os resultados obtidos irão beneficiar a sociedade no geral. E acrescentou que se trata de um projeto alavancado por quatro grandes mulheres. A ex-ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, Lídia Sequeira, ex-presidente do Conselho de Administração da APL, Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud, e Isabel Mota, presidente da Gulbenkian.
A assinatura deste contrato é o primeiro passo de um esforço continuado na requalificação do Porto de Lisboa, afirma José Castel-Branco, que acrescenta que o que se pretende é requalificar a antiga área da Doca de Pedrouços, depois de décadas de estagnação. No fim surgirá um espaço que será referência nacional e internacional.