Olhar para o Ensino em Portugal com outros Olhos

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O ensino em Portugal tem de alterar de paradigma, metamorfosear o Status Quo instalado por falta de ambição em olhar e arriscar espelhar os bons métodos instalados por outros modelos de ensino de qualidade e de futuro, como por exemplo no Suiça, em Singapura e na Finlândia. Não obstante, somos o país europeu com o melhor salto no que tange à diminuição da taxa de abandono precoce da educação, tendo alcançado 6,5% em 2021 e um novo mínimo histórico de 5,2% no terceiro trimestre, dados estes bastante positivos, o que revela que as instituições de ensino têm desenvolvido estratégias que visam garantir um melhor sucesso e aproveitamento educativo, mais inclusivo, que aposta na diversificação da sua oferta, autonomia, flexibilidade curricular, conferindo-se às escolas este poder de "make the decision" de qual o rumo a traçar dadas as suas necessidades e personalidades ímpares.

Porém, há muito caminho por desbravar, caminho este que requer coragem e uma velocidade de implementação veloz, uma vez que, o tempo não para e a transição digital advinda dos novos tempos também não. Atualmente, existe uma multiplicidade de alunos outrora inexistente, sendo que somos hoje a geração mais qualificada de sempre! Não obstante, é medular conhecer de perto essa diversidade, por forma a incorporarmos esses mesmos bons ativos no percurso de transformação que considero que o ensino irá saborear.

Um dos grandes alicerces, a força motriz do ensino é a inclusão, suprimir as desigualdades, conceder uma igualdade de oportunidades, principalmente àqueles que não nascem em Cascais ou na avenida de Roma. Urge mitigar essas mesmas assimetrias, começando por saber quais as circunstâncias de vida de cada aluno, por forma a ser possível blindar da melhor forma possível o mesmo, por via de soluções não tanto abstratas, mas sim que vão ao encontro das necessidades de cada um, uma vez que, a solução para um pode não ser a vacina para outro. O ensino tem de assentar na relação humana, na relação fiduciária, na criação de laços de proximidade e empatia para com os estudantes, visto que uma realidade com que convivemos hoje, por exemplo no ensino superior público é que existe mais vontade dos docentes serem reconhecidos como seres divinos e imaculados, do que propriamente responderem às diferentes ânsias dos seus pupilos, não pode ser debitar, debitar e debitar (matéria).

O ensino tem de cavalgar para uma maior interdisciplinaridade, por via de novos métodos de trabalho, em que a título de exemplo, deveria ser reduzido o uso de papel nas instituições educativas, isto é, cadernos, livros e mochilas pesadas que nada de positivo trazem para a saúde dos alunos, através de uma oferta escolar que visasse as novas tecnologias, o uso de tablets em que os alunos conseguiriam escrever, ler os manuais escolares, estudar e fazer todo o uso imprescindível nesta senda. Nem todos têm mil euros na carteira para comprar um IPAD Pro, daí ser capital mitigar-se mais uma assimetria e tornar o ensino mais prático, descomplicado, acessível, transportável, amigo do ambiente, para todos e não somente para os mais ricos! Por esse motivo, teria de ser o governo a financiar uma medida desta amplitude, daí vivermos num Estado democrático e social e não num Estado que promova a desigualdade social e económica.

Carece ainda o ensino em Portugal, de mecanismos que estimulem os alunos verdadeiramente a gostar de aprender, uma vez que, com uma estratégia pensada e implementada neste sentido, a aprendizagem seria mais facilitada e consequentemente existiria menos abandono e desinteresse escolar. Importa recordar que a escola pública combateu e continua a combater o analfabetismo, a iliteracia e grande parte da exclusão social. Todavia, as instituições de ensino têm de estar mais viradas para ministrar igualmente diferentes temas, como por exemplo, a linguagem não verbal, o coaching, a escrita criativa, o pensamento crítico, o empreendedorismo, como criar uma empresa, auxiliando os mesmos a surfarem no mundo das ideias abstratas, para ulterior execução desse mesmo projeto, preparando-se assim uma fornada de alunos que não tenham somente uma direção, a de trabalhar por conta de outrem e a limitação ou não de horizontes começa aqui! Dando-se assim, mais ferramentas para os estudantes se puderem encontrar a eles próprios e traçar o seu percurso identitário de vida.

A evolução do ensino considero que tenha de ser dinâmica, efémera, racional e lógica. Uma escola pública que tenha igualmente capacidade de potenciar talentos e de os descobrir, olhando para cada um, sem prejuízo de estas instituições terem a responsabilidade de acompanhar o progresso da sociedade e da transição digital que nos bate reiteradamente à porta.

Um modelo educativo que poderíamos olhar de forma mais vicinal é o modelo da Finlândia, em que o ensino não pode ser limitar as nossas escolas a ensinar teoria, a ler e ler, tornando os alunos mais bêbados de informação que ou não escutaram ou carregarão no botão mental, "turn off". Por esse motivo, a componente mais prática e mais didática nas escolas é imprescindível para tornar esta mais estimulante, convidativa e apelativa. O ensino deve centrar-se mais nos estudantes e nos seus interesses diários, naquilo que os cativa, preparando-os mais para a vida real. Neste modelo finlandês, as turmas são pequenas, promove-se o espírito de equipa, motivando os alunos a socializarem, a trabalharem em equipa, uma skill fundamental nos dias de hoje, através igualmente de tarefas temáticas, até em forma de jogos nos tablets. Carecemos por isso, de um ensino que doe mais ferramentas de escolha, menos ortodoxas e rígidas, por forma a capacitarmos os meninos do presente em Homens com know-how transversal e de futuro.

Paralelamente, na minha opinião considero ainda que não deveriam de existir exames nacionais, mas por outro lado, exames específicos das universidades, como a título de exemplo, se um aluno pretendesse ingressar na licenciatura em direito, realizaria um teste de admissão fornecido pela universidade em causa, em que a mesma poderia disponibilizar uma formação de preparação prévia tendencialmente gratuita, para a realização do mesmo. Os exames nacionais condicionam as escolhas dos alunos, como é que é possível duas horas da sua vida escolar descorar e desprezar todo o trabalho realizado ao longo de três anos? A determinação das opções de rumo no ensino, não se pode resumir a testes gerais e abstratos, mas sim concretos e específicos por via da escolha do caminho profissional que cada um pretende prosseguir. E, no contexto universitário as aulas e testes deveriam de puder ser online ou presencial, num modelo 100% presencial ou até mesmo num modelo 100% online, em que cada um optaria pelo que mais correspondesse ao seu interesse ou necessidade, visto que nem todos têm uma Penthouse no Chiado, e a habitação cada vez está mais cara, quartos a 500 euros por mês, bem como, ainda não há uma oferta de habitação pública suficiente e acessível a todos, tal como não há ainda uma mobilidade que conecte todo o país de forma rápida ( exemplo, um TGV que unificasse os grandes centros rurais aos grandes centros urbanos), sem prejuízo de todo o investimento que está e continuará a ser realizado em torno da habitação pública a preços acessíveis e da criação de rotas que confiram mais autonomia e locomobilidade a todos os portugueses.

A educação tem ainda muito por trilhar, todavia considero que num futuro a médio prazo, longo prazo, haja a transformação que muitos esperam e ambicionam, tornando o nosso modelo educativo uma referência nacional e internacional, em que mais alunos se revejam no mesmo e como exclamava Augusto Cury, "Educar não é repetir palavras, é criar ideias, é encantar."

Diretor de Due Diligence & Compliance

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