
“Não estamos em dificuldades, todos os problemas do nosso clube já foram solucionados e não precisamos de ajuda”, clamou John Textor, o empresário norte-americano que é dono do Olympique Lyon, sexto classificado da liga francesa, horas depois da Direção Nacional de Controle e Gestão (DNCG) dessa mesma liga proibir o clube de contratar atletas e ameaçar com a descida de divisão.
A DNCG manifestou preocupação com as dívidas elevadas do Lyon: 505 milhões de euros. O clube, que é nono da tabela na mesma Liga Europa onde está o FC Porto, registou um défice de 25,7 milhões de euros no final da temporada 2023/24.
Entretanto, o plano de Textor, que chegou a tentar comprar o Benfica, é usar o grupo Eagle, do qual o Lyon é apenas a face mais visível, para resolver o problema: segundo o Financial Times, o empresário da Florida pretende fazer uma flutuação de mercado do grupo na bolsa de Nova Iorque, transferir a sua participação no Crystal Palace, da Premier League, e receber dinheiro de vendas de atletas do Botafogo, que disputa hoje a final da Taça dos Libertadores da América, e do RWD Molenbeek, terceiro classificado da segunda divisão belga, outros clubes do Eagle.
“Uma organização global tem uma profunda quantidade de ferramentas para resolver os problemas que temos aqui na França, é um luxo que temos”, reagiu Textor.
Mas esse é o ponto: são precisamente as organizações globais de clubes, conhecidas como fenómeno “multiclubes”, o principal alvo das autoridades francesas, da UEFA e até das associações de adeptos. “Falta visibilidade a esse tipo de companhia”, acusou a DNDG, referindo-se à deteção, desenvolvimento e negociação de talentos numa mesma plataforma em todo o mundo.
“Os multiclubes arriscam comprometer os resultados no relvado e criar distorções no mercado de transferências devido a negociações entre clubes do mesmo grupo, os clubes são parte importante da vitalidade económica e da identidade das suas regiões, devem continuar no centro de um ecossistema que deve ser, acima de tudo, local”, acrescentaram os senadores Laurent Lafon e Michel Savin.
“O futebol está, como um sonâmbulo, a caminhar para uma crise, ninguém olha para os riscos de longo prazo do fenómeno dos ‘multiclubes’”, alertou Ronan Evain, presidente da Football Supporters Europe, associação de fãs do continente. “Corremos o risco de ver jogos entre clubes do mesmo dono”, já preveniu a UEFA.
O Lyon é apenas um de dez dos 18 clubes da Ligue 1 que faz parte de um grupo, o citado Eagle. Todd Boehly, dono do Chelsea, e um fundo de investimentos compraram o Strasbourg, e o Toulouse pertence ao Red Bird, dono do Milan, por exemplo.
No mundo, o Grupo Red Bull, da marca de bebidas energéticas austríaca, e o City Group, do governo de Abu Dhabi, cuja principal força é o poderoso Manchester City, são os “multiclubes” mais famosos.
Ao todo, mais de 300 equipas, incluindo 13% das supervisionadas pela UEFA, fazem agora parte dos grupos “multiclubes”, de acordo com dados da organização, que rege o desporto na Europa. Eram menos de 40 em 2012.
Textor, que comprou o Lyon por cerca de 900 milhões de euros em 2022 mas já teve de vender o estádio e ativos do futebol feminino para equilibrar as contas, conforme recorda ainda o Financial Times, não se deixa abater: “Eu garanto-vos, não vamos descer de divisão, temos recursos muito além das necessidades do clube, os nossos acionistas não vão deixar que este clube fracasse financeiramente”.
NÚMEROS
10
Número de clubes da Ligue 1 francesa que faz parte de um grupo global com mais emblemas
300
Clubes no mundo que estão dentro de “multiclubes”; em 2012, não chegavam a 40
505
As dívidas, em milhões de euros, do Lyon