Opinião - A essência protecionista

A opinião de Luís Bravo, Managing Partner da Dif Capital
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Os factores geopolíticos relacionados com a escalada dos valores protecionistas e populistas estão de regresso aos temas centrais dos mercados financeiros globais. Enquanto que na europa os eurocéticos registaram uma vitória em Itália no principio de março , no lado de lá do Atlântico está a formar-se uma tempestade, ainda sem nome, mas que está já a marcar o passo nos mercados internacionais.

Os investidores estão preocupados com o regresso da essência protecionista no discurso dos responsáveis políticos em Washington, nomeadamente com as promessas de tarifas internacionais, sobretudo sobre as importações provenientes da China. Estamos a braços com uma era de guerra no comércio internacional? Ou, como até aqui, a narrativa política encontrará na realidade um colete de contenção?

É preciso em primeiro lugar, enquadrar as agendas dos eventos, com o calendário político. Este ano o presidente norte americano Donald Trump terá um teste importante a nível político, com as eleições intercalares a representarem um importante teste ao mandato presidencial republicano, num momento em que, apesar de forte popularidade dentro do Partido, Trump goza de taxas de aprovação abaixo dos 50%.

Depois de em 2017 ter registado sucessos políticos, com a implementação de medidas chave do seu programa (pacote fiscal estímulos, diminuição do peso regulatório na economia) existe claramente um foco político em recuperar algumas das bandeiras políticas populistas da sua campanha – até o muro com o México voltou ao discurso – como forma de consolidar a base política e aumentar as suas taxas de aprovação até ao mês de Novembro, quando terão lugar as eleições que poderão permitir que os Democratas passem a controlar a casa dos representantes.

Uma vitória republicana nas intercalares poderá marcar todo o resto do mandato de Trump, dado os apoios que são necessários para implementar a sua agenda estratégica.

Em segundo lugar , é bem provável que no final do dia, a guerra comercial não passe acima do que são os níveis razoáveis da narrativa mediática, suavizadas depois nos momentos seguintes de comunicação dos detalhes e na implementação prática – sobretudo se existirem sinais evidentes de nervosismo nos mercados financeiros.

Ou seja, será mais uma escaramuça, que uma guerra comercial. No mais recente caso que incendiou as preocupações dos investidores, relacionado com o alumínio e aço, o conselheiro para o comércio da casa branca Peter Navarro rejeitou qualquer exceção nas medidas, tendo posteriormente sido desmentido pelo próprio presidente Donald Trump. Este facto também pode ser visto na exigência publica da presidência dos Estados Unidos de que a China proceda a uma correção do seu défice comercial com os norte americanos em mil milhões de dólares.

Na verdade reduzir este deficit, que se encontra em 375 mil milhões, em mil milhões acaba por ser um valor pouco significativo, mas politicamente providência argumentos muito favoráveis para a agenda do presidente.

Por fim, mesmo sendo expectável que a China responda com medidas equivalentes – se no seio da Organização Mundial do Comércio não for encontrado um acordo – é bem provável que no final desta “escaramuça” o impacte no crescimento económico global não seja significativo – alguns observadores de mercado apontam num impacte de 0,1% a 0,2% no PIB global, caso as tarifas as importações entre Estados Unidos e China atinjam valores elevados entre os 15% e os 20%.

Obviamente, existem sempre os riscos imprevisíveis relacionados com efeitos de bola de neve associadas à essência protecionista, que no entanto deverão permanecer controlados, mas não deverão evitar um período de maior volatilidade nas cotações das ações transaccionadas em bolsa.

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