Os receios não são novos e um crescente numero de economistas e observadores internacionais, como o FMI, já se pronunciaram recentemente sobre as preocupações com a possibilidade da China poder desencadear uma nova crise financeira internacional entre 2018 e 2019.
Os pecados cometidos são os mesmos de sempre na era moderna. Excesso de endividamento numa economia sustentada num mercado imobiliário, e com um excessivo peso do sector público, que pode registar um abrandamento económico e com isso forçar as autoridades em Pequim a intervencionar o sector bancário numa dimensão enorme, um esforço bem acima do que foi necessário injetar em 2008 para conter a ultima crise nos Estados Unidos – existe alguns investidores que apontam uma necessidade de intervenção com uma dimensão em torno dos 30% do PIB da economia do gigante asiático.
Existe claramente no terreno uma série de medidas preventivas por parte dos reguladores e do Estado. Mas as duvidas persistem no mercado sobre a real capacidade de lidar com um revés no contexto atual, sobretudo se o crescimento abrandar de forma significativa nos próximos trimestres.
A raiz das preocupações está associada ao crescimento exponencial da concessão de crédito na ultima década e a excessiva concentração de crédito imobiliário nos bancos – que pode originar um impacte não apenas no tecido bancário local, mas também bancos internacionais com interesses na região.
A Hayman Capital, um dos Hedge Funds que antecipou a crise imobiliária nos Estados Unidos, estima que os balanços do bancos chineses estejam cerca de 20X alavancados em crédito sobretudo imobiliário. Isto significa que um nível de incumprimento de crédito (ou NPL’s) em torno de 5% poderia ser destrutivo para a base de capital do sistema bancário local – mais incerto seria verificar-se um efeito contágio à escala global.
Outra das preocupações que se liga com este risco, está associada ao excessivo peso do sistema publico na economia, e o financiamento das autoridades regionais, com demasiado investimento em infraestrutura, nem toda ele com impacte relevante ao nível do crescimento económico.
Acresce que o sistema de garantias providenciadas pelo estado chinês, obedecem a um sistema de execução bastante célere, podendo, em cenário de crise, ser acionadas e criar estrangulamentos adicionais no sistema. Muito depende por isso da capacidade do governo chinês conseguir impor a sua agenda de controle destes riscos, sem colocar em causa a resiliência do ritmo do crescimento económico. O excesso de rigidez das politicas fiscais, monetárias e até ambientais poderá fazer desequilibrar a balança.
No entanto leituras preliminares do principio do ano apontam para um clima equilibrado no que diz respeito a estes equilíbrios. Os dados relativos ao crescimento do PIB no ultimo trimestre confirmaram um ritmo sólido de evolução de 6,9% em 2018, o que compara favoravelmente com os 6,7% que cresceu em 2017. Adicionalmente, os dados relativos às intenções de investimento, expectativas de exportações e atividade industrial publicados recentemente indiciam que a economia continuará a crescer em linha com a média dos últimos anos.
Isto levou inclusivamente à revisão em alta de estimativas de crescimento da economia chinesa nas ultimas semanas por parte de algumas casas de investimento, como é o caso do Barclays – que espera que taxas de 6,7% e 6,5% para 2018 e 2019 – e aponta um caminho de sucesso no que diz respeito à capacidade do governo de conter os riscos associados ao sector imobiliário. Os alertas contudo, não são negligenciáveis, e deverão ser tidas em consideração pelos investidores.