A energia tem sido, e continua a ser, um pilar fundamental do crescimento económico e do progresso das sociedades.
2015 ficou marcado por dois grandes consensos globais - a Agenda 2030 das Nações Unidas e o Acordo de Paris- que colocam o desenvolvimento sustentável nas prioridades das diversas agendas, não só políticas mas também do setor empresarial.
2016 e 2017 marcam pela rapidez da evolução tecnológica e de novas soluções digitais suportadas por informação, ao serviço de uma sociedade cada vez mais desintermediada e apoiada em transações peer-to-peer.
O setor energético continua a ser o maior responsável pelas emissões de gases com efeito de estufa, sendo que a par disso existem mais de mil milhões de pessoas no planeta sem acesso a eletricidade. A transição energética é, por isso, evidente e eminente, e tem de ser orientada para que a energia chegue a todos e seja limpa.
Em Portugal será possível alcançar um objetivo de neutralidade carbónica em 2050 através da eletrificação da economia, suportada por fontes renováveis, com uma forte incidência na transição dos transportes de combustão interna para elétrico, aquecimento/arrefecimento doméstico e consumo industrial, e com um aumento da eficiência energética nos edifícios.
Será fundamental que este percurso seja acompanhado de políticas que internalizem o custo de emissão de CO2 e reciclem adequadamente as receitas fiscais (para sustentar o crescimento económico, criação de emprego e progressividade e utilidade nas famílias).
Em paralelo, assistiremos a uma transformação digital, em que a criação de valor distintivo será fundamentalmente detida por quem tenha acesso à informação e desenvolva os melhores algoritmos sobre essa informação. Um bom exemplo será pensarmos na rede de carregamento de veículos elétricos – no futuro a criação de valor não estará nos que detêm ativos de rede, mas sim em quem conseguir ter o melhor software para gerir os milhares de baterias dispersas pelas cidades.
As ferramentas de data analytics, machine learning e Inteligência Artificial potenciarão a gestão de ativos físicos, como as grandes centrais de produção de energia, a gestão de redes inteligentes de distribuição de eletricidade, e, de forma estruturalmente diferente da atual, a customer experience. O crescimento da geração distribuída, capacidade de storage residencial e transações peer-to-peer irão alterar o papel que as utilities terão no futuro do sector elétrico.
Se, do ponto de vista económico, os últimos 10 anos na Europa foram perdidos, foi também durante esta década que Portugal assumiu um papel de liderança no sector das renováveis. É neste contexto, e com uma aposta forte na eletrificação e digitalização da economia, que será possível, e provável, pensar num futuro descarbonizado e de crescimento sustentável.
Rui Teixeira é administrador da EDP