Em 2005, o Corinthians, popular clube de São Paulo, conquistou o Brasileirão, com uma equipa onde brilhavam os brasileiros Fábio Costa, Gustavo Nery, Marcelo Mattos e Roger mas, sobretudo, o duo de argentinos Mascherano e Carlitos Tévez, em trânsito para a Europa. Tévez foi mesmo ao Palácio do Planalto entregar uma camisa do clube ao então presidente da República Lula da Silva, fanático ‘torcedor’ corintiano..Mas não é de futebol que vamos falar. Os campeões nacionais daquele ano, o princípio da Era Lula e da Era PT no poder, não era tanto um clube de futebol mas um grupo de empresas..Para ser eleito presidente da República, Lula, cujo nome causava calafrios no empresariado nos anos 80 e 90, teve de colocar o socialismo na gaveta. Chamou Antonio Palocci, o seu braço-direito com bom trânsito na área económica, e estabeleceu um plano que, sem hipotecar o compromisso com o lado social, piscasse o olho aos donos do dinheiro..Uma vez eleito, além de agradar ao seu eleitorado tradicional, os mais pobres, Lula tinha então como missão paralela satisfazer os seus opositores tradicionais, os mais ricos, num “capitalismo socialista” de difícil mas bem-sucedido equilíbrio. Aos primeiros, ofereceu o “Bolsa Família”, o “Minha Casa, Minha Vida” e outros programas sociais; aos segundos, irrigou projetos através do banco de desenvolvimento BNDES..Pelo meio, pegou numa empresa de cada um dos setores em que o país podia ser globalmente competitivo e lançou-a ao céu: a tal política batizada de “campeões nacionais”..Foi assim que Eike Batista, liderando a área do então recém-descoberto petróleo ao largo do Rio de Janeiro, chegou a sétimo mais rico do mundo, segundo a Forbes. Que a Odebrecht, outra escolhida, se tornou a construtora do regime, multiplicando em 60 vezes os seus dividendos espalhados por três continentes. Que a Oi foi eleita para representar o Brasil no mercado global das telecomunicações. E que a JBS atingiu o topo do mundo na sua área de atuação, o setor do processamento de carne..Hoje, sucedem-se no Brasil os boicotes à JBS, cujos donos enriqueceram na Era Lula do dia para a noite, delataram toda a gente que foram corrompendo na Era Lava-Jato e agora têm de pagar 11 mil milhões de reais – cerca de 3,5 mil milhões de euros – para escapar da prisão. A Oi, cuja telenovela sobre a sua decadência atravessou as duas margens do Atlântico, é um fardo, uma maldição. A Odebrecht é nos dias que correm o mais novo sinónimo de roubo, com sete dezenas de executivos, incluindo o seu presidente Marcelo Odebrecht, na prisão. E Eike, quase falido, cumpre pena domiciliar por corrupção..Os campeões nacionais de Lula, se a economia fosse futebol, estariam a lutar para não descer de divisão..Aliás, o próprio Corinthians, que ambicionava tornar-se um dos clubes mais lucrativos do mundo com um recorde de 110 lojas de merchandising, só gerou falências e dívidas a quem apostou no negócio. Mais: o clube ganhou de Lula e da Odebrecht um estádio novo em folha para inaugurar o Mundial 2014, que resultou, segundo a polícia, em três milhões de reais desviados, e hoje não consegue pagar a manutenção da própria arena..Nem o Corinthians, tão amado pelo antigo presidente, resistiu à sua política dos campeões nacionais.