Os resultados das eleições gerais no passado mês de Março trouxe um cenário de incerteza no que diz respeito a uma solução governativa em Itália, sobretudo porque que pela primeira vez na zona euro, existiram mais de 50% de votos expressos em partidos eurocépticos, (combinando o resultado do movimento independentista “a liga” e o movimento 5 estrelas), o que significa que, apesar de pouco provável, seria possível existir um cenário de suporte a um governo cuja agenda fosse a reversão do processo de integração europeia, o que levanta o espectro de um cenário de referendo de saída de Itália do euro, que a materializar-se poderia trazer ao de cima um real debate sobre a desintegração da área do euro.
Na ultima semana, a crise política acentuou-se depois de falharem várias rondas de negociação entre os diversos partidos, e os investidores reagiram nos mercados financeiros, sobretudo na subida dos prémios de risco das emissões de divida soberana dos países da periferia da União Europeia, sobretudo da Italiana.
As noticias que dão conta do insucesso das negociações, apontam também para marcação de eleições antecipadas como cenário mais provável – a opção de nomeação de um governo tecnocrata parece recolher poucos apoios nos partidos – e isso tem implicações imediatas, e outras menos imediatas, mas nenhuma delas parece ajudar a estabilizar a incerteza relacionada com os desafios de natureza económica com que Itália se depara.
Em primeiro lugar, pelo tempo que já se perdeu no que diz respeito à continuidade de reformas estruturais, que permita não só maior integração fiscal com a União Europeia, mas também criar maior competitividade enquanto no euro prevalece um enquadramento de taxas de juro muito favorável, combinado com perspectivas de crescimento positivas.
Em segundo lugar, novas eleições antecipadas poderão trazer ao palco central velhos fantasmas, pois não se perspectivam que os resultados sejam muito diferentes, pelo que isto levanta duvidas sobre o que poderá ser o futuro da Itália dentro do projeto de integração da União Europeia.
Uma nova maioria eleitoral de partidos anti-sistema pode acabar por criar o primeiro executivo eurocéptico dentro dos grande países da União Europeia – a pressão para não voltar a provocar novas eleições antecipadas pode levar a um acordo entre os dois movimentos, apesar de muito o que ideologicamente os separa.
Mas num eventual acordo de governo transalpino porá selar-se um eventual referendo sobre a permanência da Itália na União Europeia, que teria boas possibilidades de ser vencedor, a julgar pelas sondagens e por estes resultados eleitorais. Este mandato de saída, ou Uscitália , teria um contorno potencialmente mais dramático para a Europa, do que o Brexit uma vez que que ao contrário destes últimos, a Itália utiliza o euro como moeda. Um problema que teria visibilidade imediata em termos sistémicos na zona euro.
Ou seja, depois de um período de acalmia, esta espécie de vulcão adormecido que representa o eurocepticismo pode voltar a entrar em atividade, e a testar os nervos dos investidores. É verdade que a Europa tem conseguido construir de forma lenta uma fortaleza ao redor do euro em termos de política monetária, e mantido uma mensagem política mais sólida em favor do projeto de integração.
A isto juntou-se uma favorável conjuntura económica mundial e que têm prevalecido sobre tudo o resto. E o mais provável é que continue a ser assim, que prevaleça a força do BCE e do projeto de maior integração no euro, embora nem sempre à velocidade desejável. A volatilidade contudo, não deverá desaparecer de forma tão rápida, e terão o seu peso nas decisões de investimento, e consequentemente no comportamento dos mercados financeiros de risco.