Opinião. Para o “caralho” da caravela Europa!

O "caralho" era a cesta que se encontrava no alto dos mastros das caravelas onde o castigado cumpria a sua pena ou seria atirado borda afora
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Caravela é uma extraordinária invenção “tecnológica” portuguesa, que permitiu ultrapassar as galés movidas à força braçal de grandes tripulações de degredados. Estas naves oceânicas permitiam navegar contra o vento e ter espaço para o transporte de pessoas e víveres. O domínio da energia motriz da época, a cruzada espiritual, a necessidade e a ambição fizeram-nos senhores dos mares. Num século apenas, afirmámos a primeira marca nação verdadeiramente global.

Com menos de dois milhões de portugueses criámos o maior império do mundo. Nunca nenhum povo chegara a tão grandes feitos, provando que o mundo era um arquipélago, que os oceanos estavam ligados e que os continentes seriam aproximados por rotas comerciais que marcaram definitivamente a cultura do nosso planeta.

Trouxemos à Europa o exotismo de África, as especiarias da Índia, o ouro do Brasil. Muito poucos homens tiveram um impacto tão grande na história universal como os portugueses. O infante D. Henrique fez convergir para a escola náutica de Sagres o centro científico do mundo, tendo realizado o primeiro trabalho sistematizado sobre a ciência da exploração. Éramos o centro da cultura ocidental, e a Europa a periferia de um tridente intercontinental que dominávamos. Esta mundividência trouxe-nos poder, riqueza e respeito, mas também muita inveja, dos países do Norte a quem faltava mar.

Holandeses, agentes passivos desta aventura planetária, demasiado ocupados com o domínio turco, procuravam ir no rasto dos portugueses assaltar as nossas conquistas e atacar as nossas praças. Nessa altura não havia escrutínios públicos nem redes sociais, os julgamentos eram mais simples. No tempo dos Descobrimentos, o “caralho” era a cesta que se encontrava no alto dos mastros das caravelas. Era o lugar do alto de onde os vigias espiavam, pacientemente, o horizonte na procura de sinais de terra. Mas o “caralho” era também um lugar de altíssima justiça, para onde eram remetidos os que tivessem cometido alguma infração a bordo.

Do alto do mastro vingador, numa contínua instabilidade aérea, o castigado cumpria a sua pena, embalado pelos enjoativos movimentos do barco, até que atingisse um estado de “embriaguez” moral que o mantivesse calmo durante alguns dias, ou então seria atirado borda a fora. Neste caso, borda fora da caravela Europa.

Presidente a Ivity Brand Corp e da Associação Portugal Genial

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