Nos últimos anos as principais praças financeiras globais têm-se mostrado resilientes e generosas para os investidores mais fieis e persistentes. Apesar dos testes complexos relacionados com o legado da grande recessão em 2008, ou posteriormente com as dividas soberanas europeias, e mais recentemente com os receios de maior protecionismo e nacionalismo, a realidade é que no final imperou sempre a lei dos bancos centrais, e os mercados desenvolvidos – com os Estados Unidos à cabeça – registaram, ano após ano, boas valorizações.
Chegados aqui, e aqui significa o momento em que os estímulos são conversa do passado, e entramos numa ciclo de subida de taxas diretoras, o debate centra-se sobre a capacidade das economias desenvolvidas continuarem a crescer de forma a que as empresas consigam crescer de forma a suportar novas valorizações nos mercados. E já agora, quais são as melhores soluções?
Em primeiro lugar importa dizer que o mundo desenvolvido continua a dar sinais de resiliência e de que continuará a crescer de forma sólida nos próximos anos - a Europa deverá crescer entre os 2% e os 2,5%, enquanto que os Estados Unidos poderão aproximar-se de valores em torno dos 3% de crescimento do PIB.
Não estamos por isso num cenário de possível desaceleração ou recessão mundial, bem pelo contrário.
Adicionalmente as principais empresas internacionais cotadas continuam a apresentar um bom registo (em média os lucros por ação subiram acima dos 10% em 2017) , e os analistas e observadores internacionais apontam para uma subida entre 8% a 10% para este ano, e por isso capazes de voltar a entregar dividendos atrativos aos acionistas, e olhando para as alternativas nos mercados financeiros continua a ser a melhor opção ser dono do negocio do que ser seu credor.
Em segundo lugar, será necessário fazer escolhas. Olhando para as avaliações das cotadas em termos de múltiplo de preço (por exemplo o price-earnings ratio, que mede a relação entre cotação e lucro por ação de uma empresa), os mercados desenvolvidos não se encontram em níveis historicamente baratos, mas estão longe de sinalizar uma bolha especulativa nos mercados de risco internacionais.
Contudo, a Europa aparenta ter neste momento melhores condições para ser a primeira opção na carteira dos investidores, num momento em que para além das condições monetárias serem mais acomodatícias (não deveremos ver subida de taxas antes de 2019) , o agregado do euro parece estar finalmente liberto da crise existencial que marcou muitos dos últimos anos.
Por fim, a estabilização dos receios com o euro terá dois efeitos a ter em consideração. Em primeiro lugar, significa que as empresas europeias de referência deverão beneficiar em termos de resultados da estabilização e melhoria dos níveis de consumo doméstico na zona euro, conduzindo a melhores expectativas de crescimento de resultados e de dividendos para os próximos anos do que os Estados Unidos, e isso será visível nos preços em mercado, que alimentará provavelmente uma expansão de múltiplos de preço – que neste momento se encontram em cerca de 15X em termos de preços sobre lucro por ação, abaixo do máximo registado em 2015 (P/E 16,5 X), e com elevado desconto sobre as comparáveis norte americanas, que transacionam em torno de um múltiplo médio de 18 X sobre o valor dos lucros por ação.
O segundo efeito está relacionado com o impacto desta estabilização sistémica do euro sobre os países da periferia, sobretudo os que estiveram sobre intervenção externa como são o caso de Grécia e Portugal. Nestes países, apesar da retórica política anti-austeridade, acabou por prevalecer a manutenção da consolidação fiscal, e – ainda que tímida - a manutenção de reformas estruturais.
O retorno da confiança por parte dos mercados financeiros – a Grécia deverá registar a sua saída limpa em Agosto – e das agências de notação de rating podem trazer ao palco central das oportunidades os países da periferia, que até agora têm permanecido como atores secundários no ciclo da recuperação.