O ano que agora termina teve um sinal positivo: contra muitas expectativas, a economia portuguesa “aguentou-se” e deu até sinais de um desempenho surpreendente, face ao quadro macroeconómico global e, em particular, europeu. Se tudo correr com normalidade, o ano fecha com um crescimento superior ao previsto (1,8%), um volume recorde de exportações e um aumento exponencial do rendimento disponível (7,1%). Perante o turbilhão político com que o país entrou em 2024, o resultado não foi mau de todo.
A questão é saber se em 2025 teremos um cenário melhor ou pior do que este. No plano interno, as condições de base são animadoras: não se prevê existir uma quebra do consumo privado, haverá alívio fiscal para particulares e empresas (IRS Jovem e IRC, por exemplo) e uma previsível continuidade no corte das taxas de juro. A estes indicadores, soma-se uma expectável aceleração do investimento público por via do PRR, que poderá vitaminar e trazer liquidez à economia. Do outro lado da moeda, estão sinais menos positivos no mercado de trabalho, com um número de despedimentos coletivos que remete para os tempos da troika e, por outro lado, as carências persistentes de mão de obra em vários setores.
É no plano externo, todavia, que surgem os focos de maior incerteza e perigo. A Alemanha, motor económico da UE, está numa crise sem precedentes nas últimas décadas e pode expor uma componente crítica da indústria nacional, como é a fileira automóvel, a consequências dramáticas. França, outro grande destino exportador nacional, está em fragmentação política e estagnação económica. A estes dois atores, junta-se o fator Trump e uma mais do que certa regressão protecionista nos EUA, que terá a Europa como um dos alvos preferenciais. A única boa noticia, neste domínio, é mesmo a expectativa do acordo comercial UE/Mercosul estar fechado e pronto a arrancar em 2025, tendo Portugal uma posição geoestratégica vantajosa nessa matéria.
Se o ano que finda foi relativamente normal, não se adivinha que o próximo seja muito diferente. Numa análise pragmática, tudo indica que existem condições de partida suficientes para cumprir com a meta de 2,1% do Governo e trazer alguma solidez à economia. Assim não surjam surpresas de última hora, nem se agrave o cenário internacional.
Nuno Botelho, Presidente da Associação Comercial do Porto