O mundo parece empenhado em fazer a vontade a Trump, tornando os Estados Unidos (EUA) no seu centro. O mundo, não: a China tem feito questão de ignorar o protagonista, o que não o deve deixar satisfeito. Em contraste, na Europa, não se fala de outra coisa, com vários líderes a porem-se em bicos de pés, num misto de oportunismo divisionista e demonstração de fraqueza. A falta de autoestima é uma das fraquezas europeias. Há erros que se cometeram, há problemas graves de organização e governança, há uma estrutura económica que necessita de ser revitalizada e reestruturada, há tudo e mais alguma coisa, incluindo uma capacidade, de resistência e superação, nunca devidamente apreciada. Se, como exercício académico, tivéssemos admitido, há cinco anos, que a Europa seria, sucessivamente, sujeita a um lockdown pandémico, a disrupções nas cadeias de produção, na logística e no abastecimento de energia, enquanto mantinha o seu modelo de organização e governo, a resultante estima seria pior do que a situação atual. Mas os EUA estão muito melhor! É verdade. É o resultado de um quadro e histórico institucional único que não faz sentido querer copiar. Ainda assim, expurgue-se o impacto das “7 magníficas” e a diferença esbate-se. Ou seja, não obstante as proclamações, tivemos falta de comparência nesse terreno, importando perceber porquê! Há, porém, economia para além das big tech e nela a Europa tem empresas, para as quais o Goldman Sachs, por contraposição, criou o acrónimo “granolas” (são 11 - veja quais na net), que são referências de ecossistemas competitivos que constituem uma base de partida relevante para um novo desígnio.Durão Barroso diz que Trump 2.0 pode ser a “terapia de choque” de que precisamos, na linha da intuição de Jean Monnet de que a Europa seria forjada nas crises e das soluções para elas adotadas. Os documentos de Draghi e Letta são bons guias para a ação necessária à recuperação da competitividade, ela própria crucial na afirmação da autonomia geopolítica de uma Europa que queira ser relevante na cena internacional e não apenas um seguidor. Seremos capazes de querer?2025 promete!Economista e professor universitário