Não é preciso ser-se criativo como Duncan Wardle, antigo vice-presidente da Disney, para ouvirmos dizer que a criatividade é uma competência de sobrevivência do futuro de qualquer profissional. E o melhor é que a Inteligência Artificial (IA) pode libertar-nos de tarefas rotineiras, ganhando nós tempo para pensar, para termos grandes ideias, como me explicou.
Em dezembro de 2023, já Duncan tinha escrito num artigo na Forbes: “Embora a IA seja uma inovação transformadora, está longe de ser capaz de possuir as características humanas que conduzem ao pensamento criativo puro.” Neste artigo, referia pela primeira vez as skills que nos próximos dez anos devemos trabalhar, para nos mantermos competitivos num mercado de trabalho onde a IA terá cada vez maior ascendência. “Recentemente, uma engenheira que trabalha com IA disse-me que achava que as competências mais empregáveis nos próximos anos seriam a criatividade, a imaginação, a curiosidade, a empatia e a intuição, porque a IA não as consegue replicar.”
No estudo Future of Jobs 2025, do Fórum Económico Mundial, competências como IA e big data; pensamento analítico; pensamento criativo; resiliência, flexibilidade e agilidade; e literacia tecnológica “não são apenas consideradas críticas atualmente, como também se prevê que se tornem ainda mais importantes” no futuro das profissões, até 2030.
Acontece, porém, que o pensamento criativo nem sempre é bem visto dentro das empresas, apesar de todos os setores de atividade - seguros, educação, saúde, indústrias avançadas, telecomunicações, TI, imobiliário, serviços - o considerarem crucial. É impressionante como isso choca com o mercado de trabalho, que se debate - quase como uma criança com sono - contra o que foge à regra: aquilo que muitas vezes ouvimos dizer que sai fora da caixa, desta caixa social tão normativa em que nos encontramos.
O estudo da Harvard Business Review (HBR) Creativity as a Catalyst for Business Growth [A Criatividade Como Catalisador do Crescimento Empresarial, em tradução livre] revela que, além das falhas no incentivo à criatividade dentro das empresas, muitos trabalhadores temem ser punidos - leu bem - por experimentarem novas ideias que rompam com o convencional.
Não admira, em muitos casos, que seja difícil reter talento - mas é sobre isto que devemos refletir também. “Os obstáculos que as organizações enfrentam atualmente estão entre os mesmos fatores que impulsionam a necessidade de maior criatividade. No caso em apreço: 69% dos inquiridos afirmam que a dificuldade em atrair e reter talentos é um desafio fundamental. Ao mesmo tempo, 53% citam a atração e a retenção de talentos como um motor de maior criatividade”, destaca o estudo da HBR.
Dar maior liberdade criativa retém talento? É que é esse que pode contribuir para acrescentar impacto social e económico às organizações, e levar à inovação.
Jornalista