A IA e a Banca: O futuro já começou

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Durante anos, a Inteligência Artificial (IA) foi tratada como um assunto “do futuro”, algo para debater em conferências e que tinha interesse para os gabinetes de inovação. Toda a gente diz, neste momento, que “o futuro já começou” — e a IA está a transformar a banca de forma muito mais profunda do que se pensa. Longe de ser apenas uma ferramenta para agilizar tarefas, a IA está a tornar-se um novo pilar da atividade bancária, com impacto direto na relação com os clientes, na eficiência das operações e no papel das entidades reguladoras. O mais interessante? Tudo isto está a acontecer com uma naturalidade surpreendente. E é precisamente por isso que vale a pena prestar atenção.

A banca em modo IA: de dados a decisões

A IA já redesenha três grandes áreas da atividade bancária: a relação com o cliente, a eficiência operacional (e o sempre desafiante compliance) e até o próprio papel dos reguladores. Comecemos pela mais visível: a relação entre banco e cliente.

Os bancos já não são apenas entidades que guardam dinheiro. São plataformas de dados e inteligência. Conhecem os seus clientes com um nível de detalhe surpreendente: transações, padrões de consumo, horários de pagamento, assinaturas ativas. Com a IA, estes dados ganham vida e transformam-se em ações concretas.

Imagine um sistema que sabe que o cliente costuma pagar a renda no dia 1 de cada mês. Chega o dia 3 e nada. Sem juízos nem alarmes aparece apenas uma notificação: “Esqueceu-se de pagar a renda este mês?”. É esta sensibilidade — discreta, personalizada, útil — que está a redefinir o serviço bancário.

Também a evolução no processamento de linguagem natural permite que os bancos entendam pedidos em linguagem corrente. Assistentes virtuais, alimentados por modelos generativos, já ajudam a esclarecer dúvidas ou a reorganizar despesas. Mas o sucesso depende da qualidade dos dados e da integração real com os sistemas internos. Um chatbot é útil não porque responde, mas porque compreende uma instrução e executa.

A nível operacional, a IA começa a tornar os processos menos “pesados”. Os modelos generativos têm acelerado tarefas que antes eram totalmente manuais: relatórios regulatórios, documentos de venda, verificação de conformidade. Ganhos de eficiência, mais rigor, menos margem para erro. Tudo isso se potencia quando estas tecnologias são aplicadas de forma centralizada, com equipas multidisciplinares, prioridades claras e decisões rápidas. Um relatório recente da McKinsey mostra que bancos que optaram por um investimento centralizado em IA conseguem manter e escalar mais facilmente o valor criado pela IA.

Mas há uma questão crítica: a qualidade dos dados. O velho princípio “garbage in, garbage out” nunca foi tão verdadeiro. Modelos treinados com dados incompletos, enviesados ou desatualizados não só cometem erros, como nos induzem cometê-los.

Finalmente, também os reguladores estão a modernizar-se. Ferramentas como o SupTech (supervisory technology) e o RegTech (regulatory technology) já permitem a deteção de fraudes em tempo real, a monitorização de riscos e a automação da entrega de relatórios. A IA, aqui, não é só vigilância — é confiança no sistema. O AI Act da União Europeia confirma esta tendência, ao exigir transparência, explicabilidade e respeito pela privacidade nos sistemas de IA.

Mais do que tecnologia, a IA é visão

A IA na banca não é uma moda, nem um luxo — é um ponto de viragem. Não se trata apenas de fazer o que sempre se fez, mas mais rápido. Trata-se de fazer melhor. Mais orientado para as necessidades reais dos clientes. Mais consciente dos riscos. Tirando mais partido dos dados. Mais colaborativo entre instituições.

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