A Lição de José Manuel Durão Barroso
Numa recente New Year Lesson do Grupo de Partilha Sharing Knowledge, o tema da Nova Ordem Global neste novo ano de 2025 foi objeto de uma lição de excelência por parte de José Manuel Durão Barroso. O reputado estadista e pensador, que tem prestigiado o nosso país um pouco por todo o mundo, teve oportunidade de apresentar uma radiografia muito completa e estruturada das principais condicionantes e tendências do mundo em que vivemos e do seu impacto na nossa sociedade e economia – ficou claro para todos os presentes que a incerteza e complexidade deste novo tempo trouxe novas perguntas que exigem novas respostas e soluções diferentes das tradicionais. Assim falou José Manuel Durão Barroso.
Tive o grato prazer de conhecer José Manuel Durão Barroso há pouco mais de 25 anos – estava então a concluir o novo Mestrado em Ciência Política lançado por João Carlos Espada na Católica e a propósito de um trabalho de investigação que então realizei tive oportunidade de contactar aquele que tinha sido há pouco tempo Ministro dos Negócios Estrangeiros. Na época, encontrava-se em Georgetown, em Washington, em dedicados trabalhos letivos e de investigação. Ficou-me desde essa altura esta nota de profunda capacidade de pensamento e conhecimento de José Manuel Durão Barroso, que tem sabido transportar de forma única para o espaço do debate público e da política estratégica de alto nível internacional.
A Ordem Internacional não se constrói por mero decreto e segundo a opinião de referência do orador tem de assentar num verdadeiro compromisso estratégico de confiança entre os players do xadrez internacional – a base do sucesso desse contrato para o futuro está em larga escala ligada a esta ideia de um novo multilateralismo aberto e participado que infelizmente não tem conseguido assumir-se como a plataforma central destes novos tempos que estamos a viver. A sociedade aberta de Karl Popper que aprendi no referido Mestrado e pela qual José Manuel Durão Barroso tão bem ao longo da sua carreira tem lutado é hoje um desafio claro para todos e implica uma nova abordagem sustentada da relação entre as nações e os seus cidadãos.
Vivemos um tempo em que os exemplos contam muito. A sociedade global precisa de novas referências, como muito bem nos ensinam nos seus fantásticos textos pensadores como Daniel Innerarity, Anne Applebaum e Martin Wolf, entre muitos outros e mais do que nunca se torna um imperativo dar sinais de confiança a uma nova oportunidade para o mundo. Já não temos, como muito bem refere José Manuel Durão Barroso, a agenda da globalização que trouxe novos players como a China para o competitivo quadro da agenda internacional. Mas não estamos ainda no limite do indesejável protecionismo que tem aumentado em particular no mundo ocidental – caso dos EUA agora de novo com Trump – e coloca dúvidas ao compromisso de confiança estratégico que ambicionamos. O Mundo Plano que há cerca de 20 anos Thomas Friedman tão bem nos apresentou sofreu muitas alterações mas ainda não acabou. Fica a esperança – que José Manuel Durão Barroso tão bem nos trouxe – de encontramos uma nova narrativa e um novo percurso com confiança.