Atualmente têm surgido várias iniciativas para dinamizar a literacia financeira, como consequência do baixo nível de conhecimento na sociedade portuguesa (penúltimo classificado na União Europeia).Nas escolas introduz-se o preço dos produtos de consumo básico, e em níveis mais avançados a compreensão de conceitos como taxas de juro, taxa de inflação, e os diferentes produtos de investimento.Mas enquanto país e sociedade devemos ainda refletir sobre a importância do conceito de criação de riqueza e como este processo se desenvolve, pois de pouco adianta distinguir uma ação de uma obrigação, numa sociedade sem riqueza acumulada.A riqueza é criada de forma sustentável pela atividade produtiva, mas nem todos os agentes económicos têm a mesma capacidade para desempenhar este papel com qualidade.O Estado não sabe criar riqueza, antes pelo contrário. Numa economia de mercado, não há exemplo de empresas públicas cuja operação proporcione um custo à sociedade (e não apenas ao utilizador) inferior ao de um operador privado, e uma qualidade de serviço equiparável.A explicação pode ser encontrada em provérbios antigos como “Patrão fora dia Santo na loja”. Atente-se em casos como TAP, CP, ou RTP que validam a natureza do ser humano enquanto agente económico: gerimos melhor aquilo que é nosso (privado) do que o que é dos outros (público).Quem tem, então, capacidade para executar de forma mais eficiente o processo de criação de riqueza? O setor privado, nomeadamente os empreendedores.Para estes, a eficiência e a criação de riqueza não são uma opção, mas uma obrigatoriedade. Só assim é possível suportar todos os gastos e gerar “lucros” para o acionista, como forma de remunerar o capital investido. E é esse estímulo pela procura do “lucro” que motiva empreendedores a construírem negócios, serem competitivos e inovadores ao nível da qualidade de serviço, e economicamente eficientes na alocação de recursos. O preço a pagar pela incompetência afeta diretamente o bolso e a reputação do empreendedor.No Estado, a falta de competitividade face ao privado é desvirtuada pelo preço pago pelo utilizador (subsidiado pelos contribuintes), resultando num serviço de pior qualidade, e a eficiência económica é negligenciada dada a facilidade de obtenção de fundos através da tributação (de novo, recorrendo aos contribuintes).Achar errado que as empresas privadas gerem “lucros milionários” é sintomático da falta de literacia financeira na nossa sociedade, pois são esses lucros que atraem mais investimento, e por sua vez mais criação de emprego e de riqueza na sociedade. Ou seria melhor para os Estados Unidos não terem gigantes como Apple, Amazon e Microsoft? E para a Suíça não existirem Nestlé ou Rolex?A literacia financeira deve passar por desmistificar que conceitos como “lucros milionários”, empreendedores, e setor privado, não são o mal da sociedade, mas antes parte da receita paraa melhoria da qualidade de vida na sociedade, pois a riqueza, antes de ser distribuída, tem de ser criada, por quem o sabe fazer.Tal como antes de servir à mesa, é preciso que na cozinha haja quem saiba fazer bolos e não quem os deixe queimar.*João Novais é Docente da Católica Porto Business School