A nova e promissora vida do Banco de Fomento
O Banco Português de Fomento (BPF) não passava, até há pouco tempo, de uma boa ideia. Faltava a sua concretização cabal, com vista ao reforço do ecossistema de financiamento português e à promoção, por esta via, da capitalização das empresas. Não obstante o perfil inquestionável dos seus dirigentes, a volatilidade das direções executivas anteriores do banco, e consequentes mudanças de estratégia e atuação, explicam, em grande medida, as dificuldades do BPF para cumprir a sua missão.
Há cerca de três meses, o novo Presidente da Comissão Executiva do BPF, Gonçalo Regalado, anunciou que o banco emitiu 125 mil garantias, pré aprovadas, no valor de 24 mil milhões de euros, destinados, sobretudo, a micro e pequenas empresas. Este montante corresponde a 10% do PIB português, o que diz bem da dimensão dos apoios do BPF ao tecido empresarial. Na mesma altura, Gonçalo Regalado acrescentou que o banco iria alocar 3 mil milhões de euros em garantias pré aprovadas a projetos do Portugal 2030, do PRR ou do PEPAC. A ideia é que as empresas promotoras dos projetos possam, com as garantias, levantar o financiamento e assim acelerar o investimento.
A liderança de Gonçalo Regalado prenuncia um BPF mais resoluto e efetivo no financiamento das empresas, rompendo com a imagem de inépcia, desnorte e incongruência que, muito pela instabilidade da governança interna, se colou à instituição. O banco criado em 2020 para encontrar soluções de financiamento, de garantias e de capital para as empresas andou de refundação em refundação, tardando em encontrar um rumo virtuoso. Mas parece, agora, ter finalmente estabilizado e já está a financiar a economia de forma mais ágil, constante e consequente.
A economia portuguesa necessita que o BPF apresente soluções de financiamento diversificadas, competitivas e com escala e, ao mesmo tempo, que seja expedito na análise dos projetos, pragmático nas suas avaliações e célere nos seus pagamentos. Uma atuação estratégica, realista e desburocratizada é essencial para que o banco cumpra o seu papel num cenário de crescentes dificuldades de financiamento pelas empresas.
Há sérias ameaças à estabilidade do sistema financeiro internacional decorrentes da tensão geopolítica e geoeconómica que hoje se vive. Os riscos inflacionistas persistem, o crescimento económico mundial prevê-se fraco e as instituições financeiras tendem, por isso, a ser conservadoras. Tudo isto poderá levar a uma redução das fontes de financiamento e a um agravamento dos respetivos custos, com impacto quer na sustentabilidade financeira das empresas, quer na sua capacidade de expansão e investimento.
De resto, já em 2024, a alavancagem da economia era deficitária. O BEI reportou que, no ano passado, o número de empresas portuguesas com problemas de acesso a financiamento duplicou. Quase 10% das nossas empresas viram pedidos de crédito rejeitados, obtiveram um financiamento abaixo das suas expetativas ou consideraram os custos demasiado elevados, entre outrosproblemas. Isto numa altura em que o mercado de crédito estava em recuperação, com a queda das taxas de juro de referência.
Perante o agudizar do cenário internacional, importa encontrar no BPF instrumentos de capitalização com garantias públicas que, de facto, preencham as lacunas do mercado. Ou seja, que se ajustem às necessidades, expetativas e desafios do tecido empresarial português, suprindo as insuficiências da banca comercial no financiamento às empresas. É isto que se espera do BPF liderado por Gonçalo Regalado, que estou certo será capaz de tornar o banco num fator estruturante do ecossistema de financiamento português.
Presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal