Ai Portugal, Portugal!
Não sendo apologista de um governo de bloco central, sou dos que acham indispensável um entendimento ao centro que dê a estabilidade necessária para que as mudanças estruturais possam acontecer. As razões subjacentes à atual crise política remetem tal convicção à condição de uma doce ilusão.
O tema é relativamente bem conhecido para aqueles que estudam o fenómeno da polarização: dois sujeitos/grupos em oposição, num processo de desidentificação (eu não sou tu!) e a consequente avaliação moral (tu não és bom!).
Numa linguagem mais plebeia: Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos detestam-se, transportando para os respetivos partidos esse estado de alma, dinamitando as pontes que, no plano dos princípios, existiam e impedindo que novas se construam. A racionalidade dá lugar à emoção e a política aproxima-se da clubite: mesmo no aparente consenso em torno de contas públicas equilibradas, quem está na oposição propõe aumento de despesa para que o outro não possa baixar impostos… Quem perde? Portugal e a democracia: aquilo que parecia ser típico dos partidos extremistas migrou para os partidos centrais. As consequências estão à vista nos EUA.
O relativamente bom desempenho da economia portuguesa, nos últimos anos, tem obliterado a compreensão de que há muito a fazer neste nosso reino. Não falo dos problemas que saltam à vista de todos seja na saúde, na habitação, na proteção social, na justiça no ensino e por aí adiante. Falo, sobretudo, da nossa incapacidade para promover uma economia que garanta aos portugueses uma vida digna. Sem essa condição de meios, aqueles problemas podem, e devem, ser minorados, por reorganização e reafectação de meios, mas nunca resolvidos.
As eleições significarão o fim da carreira política do líder do PS ou do PSD. Talvez que, quem vier a seguir, adote uma postura diferente, sem a prioris face ao outro. Duvido que tal possa suceder sem uma forte pressão da sociedade civil. Bom seria que esta fosse além dos interesses corporativos e, sobretudo, envolvesse os mais jovens, ansiosos por ficar, empurrados para sair.
*Alberto Castro é economista e professor universitário